terça-feira, 23 de setembro de 2008

LUZ DAS ACÁCIAS

(FÁBIO ALLEX)
Para Cácia Samira

Eu te avisei que a chuva se esquivaria, que o firmamento voltaria a clarear.
Eu te profetizei nas letras que eu escrevia, muito antes de vires me visitar.

Meu oceano de paz, tu és muito maior que a imensidão.
A fé em nossa casa, nossos caminhos: nossa consagração.

Chega de ferro e fogo!
E não importa se era deserto ou se era pouco.
E se o incerto traz sufoco.
O momento é de afeto e flor.

Muito obrigado por colorir os meus dias, por colocar tudo em seu devido lugar.
Nada melhor do que as nossas mãos trançadas e sermos discípulos do Amor.

Tu és instrumento divino que veio interceder por nós.
Acostumar-se com o que é bom é muito fácil. Minha audição e tua voz.
Que o bem seja a nossa liderança.
Mergulhar em unção e temer somente o Pai.

Conta p’ra mim, só p’ra mim, meu Jasmim, se os teus encantos não têm fim.
Em qual jardim estão teus segredos? Ensina-me a plantar e a florir!
Onde mais, além de aqui, a tua luz irradia? Teu sorriso metálico também é meu sorrir.
Como cabe em ti, tamanha ternura? Minha formosura, minha fonte.

(25-08-2008)

VAZA-BARRIS

(FÁBIO ALLEX)

...E vou seguindo sem medo, sei o quanto sou capaz.
Mesmo não sendo tão cedo; a vida se renova, se refaz.
Não faço segredo, quero mesmo sempre mais.
Mas por amor, eu concedo todos meus brilhos-metais.

De longe, alguém encoberto de luz acena p’ra mim.
Foi sempre assim: no meio e beirando o fim.
Na memória, o perfume das flores do meu jardim.

Longo caminho enveredo. No chão, folhas e cristais.
Na boca, um gosto azedo que sobrou de outros carnavais.
Construo meu enredo e bordo com a cor lilás.
Sou a paz, o folguedo, sou a fome contumaz.

O dito como certo não é sempre o que devo...

(06-10-2005)

OUTRAS PALAVRAS

(FÁBIO ALLEX)

Aí vou eu de novo, andando por aí.
Despertando ideias que presas ficaram cá dentro de mim.
Sem saber aonde vou parar, que dimensões as ideias vão tomar.
Quase pedi socorro, por um momento pareceu o fim.
Não foi pseudopia, fui a fogo-morto, mas estou aqui.
Sem nove-horas parei p’ra me reencontrar, e encontrei vários corpos no mesmo lugar.
Tantos mundos girando em torno de mim e eu, entre paredes.
Falta de comida alimentando a fome e eu, tomando sede.
Sou mais forte que o vento que soprou, tenho sementes, sete-fôlegos e motor.
Pois não ser igual, não me faz ser diferente...
Quais foram os voos afogados na rodoviária? A verdade! Por que é que mentes?
Com outro acorde, toco outra canção, viro a página e troco de lição.
Agora é só tomar mais precaução, antes de tonar a modulação.

(15-03-2002)

NÃO TE DOU O PEIXE

(FÁBIO ALLEX)

Ainda vou cruzar o teu caminho, ainda vou mirar no teu olhar.
Nos momentos que me sinto perdido, consigo te achar no meu pensar.

Se tu quiseres outra direção, dou-te um beijo, estendo-te a mão, dou-te a rede,
Mostro-te o mar, não te dou o peixe, mas te ensino a pescar.

Da indiferença a um estranho no ninho. O amor é bom, vem aprender a amar.
Alguns tormentos, algo indefinido. Um pedaço de pão e uma vontade de abraçar.

Se tu quiseres outra direção, dou-te um beijo, estendo-te a mão, dou-te a rede,
Mostro-te o mar, não te dou o peixe, mas te ensino a pescar.

“Eles passarão e eu, passarinho”. Cheiro de Quintana. Feche os olhos, sinta o ar.
Encantamentos, criança sorrindo. Bem-ouvido, ouço o sol n’outro luar.

Se tu quiseres outra direção...

(11-04-2002)

CONVERGENTE

(FÁBIO ALLEX)

Para seu deleite, eu cair outra vez. Vou me procurar, sempre me acho.
Vou me mandar daqui, ou não, nem sei.
A cabeça às vezes pesa e flutua demais.
Não vou lhe redargüir com palavras, é inefável.

Simplesmente, seguir em frente, eu vou, (paulatinamente, certamente), eu vou.
Puramente, convergente, eu sou (contente novamente), estou no amor.

Esperei de você, o bem que lhe fiz. Que grande erro!
Da próxima vez se te ver que fazer, vou só fazer.
Venço, logo insisto. Com a honra à flor da pele, com o tal desejo que faz sonhar.
É preciso a bandeira no alto do mastro tremular.
Seu olhar sorrindo, o balé e a ingratidão. Tudo tão virturreal.

Simplesmente, seguir em frente, eu vou (paulatinamente, certamente), eu vou.
Puramente, convergente, eu sou (contente novamente), estou no amor.

(01-07-2002)

5INCO VIDAS

(FÁBIO ALLEX)

Nunca se sabe o que vem, falei p’ro seu bem, mas você ignorou.
Em meio a um ímpeto só, disse que seria melhor, ir com a cara e a coragem.
É cada um de um jeito, e do seu é p’ra quem tem peito.
Roendo as unhas e aguardando arranhões.
Contou-me histórias, revirou reviravoltas, sob erros sem perdão.

Atrasou o seu relógio, suas roupas estão do lado avesso.
O que você quer, eu não posso. Não me tente, eu me conheço.
Cinco vidas p’ra matar, só dois tiros p’ra usar. Nesse jogo só de azar,
Não sou eu quem vou ganhar.
Vou me perder, vou me achar, achar você, nos encontrar (reencontrar).

Uma voz nas entrelinhas deu um fim ao que não existia, proclamando outra razão.
Entre mudos e calados, entre mortos e drogados, entre perdidos e abandonados.
Com os olhos vendados, os pés soterrados, a espera de alguém que não voltará.
Nos escuros existe luz. O tempo é quem a conduz para os olhos da teimosia.

(27-08-1999)

INUSITADO

(FÁBIO ALLEX)

Não aconteceu o que eu tanto esperava. Aconteceu o que nem imaginava.
Surpreendi-me. Foi tão estranho.
Não anoiteceu na hora marcada. Tudo esclareceu em hora inadequada.
Chuva forte que veio com sol. Peixes e mares, pescadores sem anzol.
Sinal aberto e o trânsito parou, uma idéia e a luz apagou.

Talvez, eu plante um pão e o peixe volte ao aquário.
Outro fósforo, fé e mãos.
O inverso do contrário.

Tanto sono e eu, não dormi. Sonhos com olheiras pedem-me p’ra vir.
Desconhecidos dentro da minha casa, muitos vôos e nenhuma asa.
Diversos versos e um só universo. Vários: ”Não”, mas ainda te peço.
Tantos nascimentos e nenhum sobrevivente.
Tantas vidas de seus corpos ausentes. Primavera que murchou a estação.
Melodias e acordes silenciaram a canção.
O mundo no liquidificador, uma TV sem áudio e cor.

Talvez, o céu sob o chão e o macaco volte ao galho.
Rosas, pés, visão.
Um verso p’ra um otário.

(03-07-1999)

HÁ TANTAS MOSCAS

(FÁBIO ALLEX)

Sai, mosca! Cheguei primeiro aqui! Selecione outro lugar p'ra ir.
Voa, mosca, p’rum outro ar! Procure quem possa lhe ajudar.

Sou só eu no mundo, ninguém p’ra me amparar.
Não tenho nem escolha. Senão apenas aceitar.
A paz não existe, já tentei achar.
Pelo menos um prato amigo p’ra amenizar.

Sai, mosca, não tenho onde morar! Sorte de você que sabe voar.
Voa, mosca! Este lixo é meu! Por favor, só mexa no que é seu!

Sou de todo lugar, sou de lugar nenhum.
A minha casa é tão grande, nunca estou só.
Já faz tempo que eu nasci, sequer percebi.
A vida nem começou e eu já morri.

(13-01-1999)

OUTROS REDORES

(FÁBIO ALLEX)

As vidas, o tempo, uma foto, geração; um caminho, um olhar, sentimentos, coração.
Vozes, o sol, um gol, celebração; datas, coincidências, acordes, violão.
Versos, o azul, bandeira, revolução; paisagens, reencontros, estrelas, televisão.

Agora, são outros redores ou sumiu tudo que estava aqui.
Agora, são outros redores, fiquei tonto, quase cair.
São outros tantos redores e de tudo um pouco já vi. Variados, vastos redores.
Nada vejo e nada p’ra sentir.

Ouro, inverno, fogueira, uma canção; sonhos, o verde, o oposto, um aperto de mão.
Afagos, conquista, profecias, religião; o sangue, mares, lugares, outra direção.
Aprendizado, aromas, vôos, ilusão; acasos, bocas, plantio, emancipação.

Agora, são outros redores ou sumiu tudo que estava aqui.
Agora, são outros redores, fiquei tonto, quase cair.
São outros tantos redores e de tudo um pouco já tive. Variados, vastos redores.
Não mais tenho e sinto não sentir.

(21-08-1999)

MOTOR

(FÁBIO ALLEX)

Longe do efêmero. Autêntico, sublime, digno.
É a chama molhada de afinidades, de paz.
Impelente encontro marcado ou casual.
Belo, simpatia, carinho, apego, amizade.

Quando no peito é forte o barulho do motor: aqueceu o carburador
A fumaça não tem cheiro, não tem cor. Mas, há fervor.

Vértice, o cume, fastígio elevado, apogeu.
Prazer, viver, sonho real, veneração.
Divindade, céu, matéria-obra-prima, espiritual.
Frutos, bendito, razão passional, sexo.

(20-05-2000)

sábado, 5 de julho de 2008

PROCESSO DE EVOLUÇÃO

(FÁBIO ALLEX)


Enfim, o sobrenatural, surpreendentemente, aconteceu: tu e eu.
Sem definição verbal, suficientemente, o amor recebeu o mar e o breu.


Tu és a minha rede, a minha rádio, o que me diverte.
És minha sina, minha sede, o que me reflete.
(És meu combustível, minha estrada, meu estepe).
(És minha cena, meu cinema, Johnny Depp).


Obrigado por me tirares p’ra bailar. Tu trouxeste os passos p’ro meu carimbó.
Agora sei de cor: bem melhor do que ser um, é sermos nós a sós.


Tu és minha musa, meu museu, meu pomar.
A música aflora e a melodia implora p’ra cantar
(És o fim da procura; do vinho, a melhor uva... Ovacionar).
É com fé que se ora. Após tanta demora, vamos embarcar.

(Chegou a hora, vamos embora p’ra qualquer lugar).

Obrigado por vires me visitar, compartilhares os teus abraços,
me tirares o pó. Já não me sinto só.


(20-04-2008)

COMPUTANDO A DOR

(FÁBIO ALLEX)

Segue a rotina...
Estabilizador ligado, CPU ativa, monitor aceso.
Software acessado, Word aberto, dedos percorrem o teclado.
Páginas e mais páginas e mais páginas digitadas em expansão.
Todos os textos salvos, pastas criadas sem misericórdia.
Imprimindo quantitativamente, tudo organizado em subdiretórios.
Antes que a memória falhe e o processador perca a velocidade,
O HD preenche sua rigidez com arquivos e mais arquivos.
Drives são indispensáveis, disquetes, CD’s e todos os gigabytes.
Clico, abdico do sono, entrego-me sem receio, com a mão sobre o mouse.
É necessário navegar, modem conectado, virtualidade aflorada via MSN.
Quero a tua bela imagem fluindo na webcam; a tua voz terna, nos alto-falantes.
Ofereço-te a minha insônia scanneada e colorida em troca dos teus e-mails.
Até chegar o dia, até estabilizar a dor, amenizada pela companhia do computador.

(27-05-2008)

A TUA DANÇA

(FÁBIO ALLEX)

A qualquer hora, me chame p'ra dançar!
Mesmo que agora, a música pare de tocar!
Contento-me só com os sons dos teus passos!
Defino-me ao encontro da calmaria do teu abraço!
Seja na medieval, moderna, contemporânea ou popular,
a minha alegria é poder te coreografar!
Sorrir o teu riso; na tua graciosidade, me impregnar!

Quero teu chá, chá, chá; teu xaxado; teu xote!
Teu calypso; teu carimbó; tua ciranda.
Teu balé; teu break; teu bolero.
Teu sapateado; tua salsa; teu samba.
Teu maracatu; teu merengue; teu mambo.
Quero a tua valsa; teu frevo; teu jazz!

Fazer morada no teu salão,
na postura harmoniosa da tua interpretação!
Quero o teu baile, teu ritmo, teus movimentos!
Quero tua leveza, tua dança, construir momentos!

(09-04-2008)

LIVRO ABERTO

(FÁBIO ALLEX/DANIEL BRITO)

A leitura faz-me evoluir, transcender no tempo. Nesse momento, passo a viver histórias que jamais ousei.
Letras e palavras e frases e orações e períodos remetem-me ao contexto do qual já estou imensuravelmente inserido, do qual fui convencido, embriagado por metáforas e sinestesias, a não me desvencilhar.
Meus olhos sedentos, minha alma aflita, minhas mãos atiçadas p’ra mudar a próxima página e desvendar o que está porvir.
Na calada da noite, sozinho no meu quarto, a penumbra proporcionada pela janela aberta e pelas velas acesas, é suficiente p’ra iluminar o livro que me faz duvidar da solidão. A reflexão toma conta de mim, guia-me a cada vírgula, a cada parágrafo. A imaginação abraça-me forte como dois corpos que se encontram impregnados de saudade.
As personagens fazem-me companhia, o autor é meu amigo-psicólogo. Ele me entende, diz coisas que preciso ouvir e sentir, e, por vezes, encontro-me adentrando no romance. Ajuda-me no conhecimento de novos mundos, a entendê-lo melhor, a compreender meu próprio ser.
Prosas distraem-se; o fel, do fim, desiste. Tudo que era receio, assiste e faz clarear o dia a dia.
Portas abrem-se, o céu não é o limite. Tudo que era feio ou triste, vejo transformar-se em poesia.
Para alguns, lar; para outros, leito; para vários, liberdade. Independente da visão e do objetivo de cada um, todos ocupam lugares estratégicos para que seu bem maior, o livro, jamais seja fechado.

(30-03-2008)

PAIXÃO

(FÁBIO ALLEX)

Do poço ao pedestal, panfletei a paz, plantei o pão, pasteurizei pecados e petas, profetizei praias. Percebi a prisão do teu palácio, mas preferi o perigo, passando pelo portão, presenciando e paquerando o poder da pintura preciosa da tua postura perfeita entre pétalas, pombos e pardais. Parabéns!

Planejei pretextos para produzir o teu prazer, e penetraste com pureza em minha pele, feito piercing, sem pedir permissão. Procurando a palavra perfeita da página perdida, precisei, penosamente, passarinhar sobre pedras e políticas paradoxais, pacientemente.

Ponderei e permaneci perseverante pagando pedágios em pistas, pontes, portos e plataformas. Penso na poesia do Pessoa, porém prefiro peregrinar e aplaudir as tuas particularidades: pernas, pés, pêlos, pescoço. A tua pluralidade paradisíaca percorre o meu peito! És patrimônio primordial da minha pátria! És pérola pastoril do meu parágrafo! És petróleo pretendido pela minha praça privada!

Penitenciei o pudor, parafraseei Platão, pactuei com o positivismo e sem paranoias, paralelamente em meus pensamentos, popularizei a paixão!

(13-04-2008)

ÉRAMOS

(FÁBIO ALLEX)

Ah, quanta magia!
Nós éramos poesia: em nossos beijos queimávamos e virávamos noite,
Ainda que houvesse chuva e fosse dia.
Ah, quanta magia que se perdeu!
Nós a sós, éramos sóis... O brilho acabou! Nós a sós, éramos sóis. Você e eu.
Ah, quanta magia! O brilho acabou! Ah, quanta magia que se perdeu!
Nós éramos poesia como aquele dia, lá no Reviver. Eu e você.
Ah, como eu queria reviver; p’ra não morrer, morrer de amor!

(14-04-2005)

FOLGUEDO

(FÁBIO ALLEX/ADEFRAN)

Lua que estrela a noite, esqueça o açoite, eu quero é só brincar.
Hoje, sobre a terra molhada: zabumba, tinideira e meu maracá.
Escravo Chico, amo perdoa-te, mas tem que ser miolo p’ro meu, p’ro meu boi dançar.

Em frente ao mar: pantomima.
Em volta do boi: os rajados.
Em cenas profana e religiosa, a Catarina desejosa, também quer dançar.

Lenda que celebra folclore, matraca o bumbo forte em beira à praia.
Couros bordados com miçangas, vidrilhos, lantejoulas, que a luz é um brilhar.
Sotaque e cabeceira, também tambor-onça p’ro meu, p’ro meu boi urrar.

(11-10-1999)

SEM-NÚMERO

(FÁBIO ALLEX)

Pelas ruínas, espelhos e declarações de amor.
Através da neblina; conselhos, corações e flor.

Foi mais que um beijo. É nascente, é foz; no porto, jasmim.
Só agora vejo o que se sente, a voz do absorto expandir.

O silêncio e a dançarina: anseios em invernos de calor.
Onde a paz se inclina, passeios no inferno tem sabor.

Não há mais medo, e qualquer distância será perto e será sem-fim.
Toda noite é cedo. Agora, tudo é certo; antes era porvir.

(24-08-2005)

SENSORIAL

(FÁBIO ALLEX)

Não ‘tou nem aí, não ‘tou nem aí, não ‘tou nem aí p’ro que falam, não ‘tou nem aí.
Sigo o certo e o errado, vou por mim. Se há escuros e lágrimas, vou sorrir.
Em escombros e tempestades, vou dormir. Só não aceito convites p’ra fugir.
Mas quem quiser vir comigo, já vou partir. Quando achar que estarei distante,
Estarei aqui. E quando achar que o perto é longe, é por que sumi.

Não vou queimar minha bandeira, tenho ataque p’ra defender, nem vou dizer de
Brincadeira que a briga é p’ra não morrer.

Não omito verdades e nem sei mentir. Se o sinal estiver fechado,
Espero abrir. Quem estiver perdido sem guia, sei por onde ir.
E quem quiser vir comigo, pode vir. Só quero traçar os caminhos p’ra seguir.
- "Mãos ao alto!" Não sou herói, mas tento resistir. Se o sangue insiste nas veias,
Vou persistir.

Sou o grito, sou reticências, sou a flor com espinhos.
Sou o vento, sou o que vem, sou o pombo no ninho.
Sou o exército, sou as cores, sou tão sozinho.
Sou as pedras, sou o coração, sou o copo do vinho.

(08-10-1999)

SETE-FOLÊGOS

(FÁBIO ALLEX)

Nada é p’ra já. Nem tudo é p’ra ontem. O amanhã é sempre p’ra depois.
Às vezes até o hoje é adiado. Tudo tem seu tempo, hora e lugar.
As correntezas não pedem passagem. Deslizam no mar.
O vento ajuda e atrapalha. Ter pernas longas é importante.
Desviar das rochas na estrada, é necessário, é necessário.
Insistir é apostar, apostar é ganhar ou perder, perder faz parte,
É partir p’ra vitória sempre. Se não for agora, é depois.
Somos todos vencedores. Errando e vivendo, aprendendo a morrer tranquilo.

(30-07-2000)

domingo, 3 de fevereiro de 2008

SOBRE A PREVISÃO

(FÁBIO ALLEX)

Não lhe culpo de nada, nem por qualquer pressuposto.
Mesmo que fique o rosto, este ano acaba antes de agosto.

Não acredito que eu vá entender a sua decisão.
É, eu tinha razão: às vezes, o prazo antecede a previsão.

Ora, riacho.
Por hora, Rio Grande.
Outrora, Porto Alegre.
Agora, cais triste.

As palavras falham, eu sei, e eu fiquei perdido.
O medo é labirinto. Nos protegemos até do que não foi dito.

"Que seja doce" - diria Caio Fernando Abreu.
Digo: sou seu, em qualquer lugar, no Sul, no infinito.

Ignora o riacho.
Vou embora p'ro Rio Grande!
Outrora, Porto Alegre.
Agora, cais triste.

Não sei se anoiteço, não sei se apareço.
Não sei se envelheço ou viro do avesso

Não sei se mereço, não sei se padeço.
Não sei se lhe esqueço ou volto p'ro começo.

A minha dor de dente até passou, quando vi você.

(21-07-2007)

NÃO É BRINCADEIRA

(FÁBIO ALLEX)

Fizeste o quê comigo, hein?! Pois levei a maior tombeira!
Já sei! Deste-me uma rasteira! Lutas o quê?... Ou atiraste em mim?
Eita, que mira certeira!... Nada disso? Vai vê, tu és uma feiticeira.
Mas, cuidado com o meu coração, ele não é de madeira.

Tu deves ‘tá achando tudo isso uma asneira, né?
Só que eu ‘tou falando sério, não é brincadeira. Antes, eu tava meio assim: de bobeira.
Fiquei muito tempo na fileira, esperando alguém que me despertasse uma paixão verdadeira.
Só surgia pagodeira, forrozeira, axezeira. E quem me aparece?
Tu, minha Formosura! A minha Musa, minha Companheira, minha Parceira!
A única e a primeira! Quiçá, a derradeira...

Nossa! Eu devo ‘tá te dando uma canseira!
Saibas que o meu sentimento por ti, não cansa; queima! Queira-o! Aquece mais que a fogueira.
E os teus beijinhos!... Caramba! Maravilhosos!
Se eu pudesse, colocá-los-ia em uma prateleira, em uma cantoneira.
Tiraria de lá, a minha biscoiteira.
Melhor do que isso seria te encontrar, ao ir tomar banho, em minha saboneteira.
- "Ê, rapaz, besteira!".
É sério, não é brincadeira.

Realmente estou de quatro por ti. Duvidas?
Então, podes chamar a casamenteira!
Vou falar da minha paixão na imprensa, outdoors, vou contar p’ra novidadeira.
Não tenho nada a esconder, o que sinto é muito bonito.
Podem vir, bisbilhoteiras!

Faço tudo o que preciso for, meu Anjo.
Pinto-me de palhaço, rolo no chão, planto bananeira, pulo a ribanceira,
vou em carro sem freios em qualquer ladeira.
Olha, sobre o carro é brincadeira...

Quanto aos obstáculos que poderemos enfrentar, não importam as pedreiras. É da vida.
Vou levar a minha britadeira.
E sempre serei teu vigia, dar-te-ei proteção, farei tua escolta.
Sejas a minha patrulheira!

É isso. Estou morrendo de saudade. Vê se não me dar um chá de cadeira!
Vou ficar por aqui, está acabando a minha tinta, secando a tinteira.
Pôxa, substância fuleira!
Só o que sinto por ti não acaba, é infinito, dura a vida inteira.

(29-03-2007)

O ARCO E O VIOLINO

(FÁBIO ALLEX)

De tudo que me partituras, nada esqueço, decoro.
Musicado pelo teu olhar, fico do avesso, afloro.
Se perco o teu compasso, me entristeço, ignoro.
Quando finda tua orquestra, desapareço, imploro.
Arremesso-me na tua melodia, me estabeleço, moro.
No âmago dos teus timbres, enlouqueço, devoro.
Afagado pelo teu concerto, rejuvenesço, revigoro.
Sobre teu corpo acústico, me aqueço, comemoro.
Teu tom é meu destino, recomeço. Eu te adoro!
Até o infinito, o amor, te forneço e te namoro.

(13-09-2007)

NIILISMO

(FÁBIO ALLEX)

O som que reluz é chama, e a voz reclama no silêncio da noite atroz.
Há uma fuga gritante nos seus passos, tentando evitar que aconteça, mas já aconteceu.
Com mil porquês vai querer se esconder de mim, negando a própria existência.
Mas, me afirmará em você.

Quando o infinito infundado circundar os lados, você vai sugerir encontrar a luz.
Porém, eu, contrariado; ficarei de olhos fechados.
Até por que é a escuridão que me seduz.
Só a escuridão me seduz.
(Nada mais que a escuridão me seduz).

O inaudito induz e declama; o que desmente proclama a profundidade que revela nossos corpos nus.
Há uma luta militante em nossos laços, tentando evitar que permaneça, mas já não tem fim.
E quando for querer se procurar em mim; talvez, algo que lhe pertença, vai achar você.

(21-04-2006)

NÃO-EU

(FÁBIO ALLEX)

Vou erigindo passatempos, sentimentos, devoção. Corrigindo outros momentos.
Nós-eu, vera-efígie ocasional. Não-eu... A loucura é tão normal.
Tudo tão virturreal.

Vão surgindo pensamentos, encantamentos-ilusão. Sorrindo dos sofrimentos.
Mas, não eu; vera-efígie de um boçal. Sim, eu; cem loucuras sem normal.
Patri e matrilateral.

Estão admitindo contentamentos, inventos-equação. Inibindo cegos atentos.
O não-eu é vera-efígie sem igual. Sempre eu e a loucura tão normal.
E às vezes muito formal.

Sejam bem-vindos aos argumentos, Ventos! ...Direção! Dividendo de mais ressentimentos.
Nunca eu, vera-efígie parcial. Tu e eu, nessa loucura tão normal.
Acima do bem e do mal.

Não-eu... Vera-efígie...

(08-07-2003)

MELADO JANEIRO

(FÁBIO ALLEX/POKÉMON)

Às vezes sinto o quanto um bem quer. Disfarça, o mito diz que não.
Comparo o lobo à mulher: desmesurado, insano de paixão.
Sufoco o grito que está em meu peito. Cala a boca, coração!
Falta de jeito, passo colorido. Teu corpo modulado por minhas mãos.

O que ficou p'ra trás, já não existe.
O gosto do beijo amargo, sempre persiste.
Passear na selva como o meu bem quer.
Debaixo da chuva, sou teu sexo, minha mulher.

Às vezes vingo-me o quanto puder. Imploro pelo infinito com devoção
Amparo-me como um tolo do que vier, sob fragmentos de ilusão.
Enfoco o atrito que está em meu leito. Onde me vejo tem perdão
Salta ao sujeito, o fracasso florido, e fica tatuado na canção.

O que sobrou, não satisfaz. Apenas agride.
O rosto, do desejo é dissociado, mas não se divide.
Passear na selva como o meu bem quer.
Debaixo da chuva, invocando toda fé.

(01-09-2005)

ELAS

(FÁBIO ALLEX)

Eu queria ser as cores da tua aquarela,
Os bastidores da tua novela,
O papel de parede da tua tela.
Ah, quem me dera ser Daniela!

Ser o itinerário da tua passarela.
Quando faltar luz, ser a tua vela.
Ser a comida quente da tua panela.
Morrerão de inveja se um dia eu for Gabriela!

Ser o altar da tua capela,
Todos os períodos da tua era,
Ser o espelho que te refletes tão bela.
Eu sou (mais) ela. Muito prazer, sou Mariela.

Ser o sorriso que na tua boca impera,
As horas e o fim da tua espera.
E receber os beijos que o teu amor libera.
Quem me dera ser eu mesmo, p’ra ser Rafaela!

Quem me dera ser eu mesmo, p'ra ser todas elas!

(29-07-2006)

É CONTIGO

(FÁBIO ALLEX)

São teus beijos que meus lábios necessitam, são teus carinhos que minha pele deseja.
São pelos teus olhos que quero ser visto.
É no teu pensamento que quero estar. É ao teu lado.
É o barulho do teu coração que meu peito quer ouvir.
São nos teus abraços que meu corpo quer se abrigar.
São nos teus cabelos que meus dedos precisam se perder.
É teu cheiro que meu pulmão quer armazenar. E já armazenou, mesmo antes de sentir.
É a melodia da tua voz que minha audição quer captar. Há muito, é o teu canto que ouço.
É contigo que quero andar de mãos dadas. É teu suor que quero enxugar na minha camisa.
É contigo que quero mergulhar na piscina, és tu que eu quero ver de biquíni.
É contigo que quero ir ao cinema, é contigo que quero ficar no escurinho.
É contigo que quero ir ao parque, andar de montanha-russa.
É contigo que quero ir ao teatro, à Lagoa, ao Reviver, aos shows de Ana Carolina, O Teatro Mágico, Engenheiros do Hawaii, Vander Lee... À feira.
À feira?! É! Qualquer lugar.
É contigo que quero ir ao zoológico “jogar pipoca aos macacos”.
Ah! Aqui não tem zoológico! Comemos somente nós dois, as pipocas. E dou-te na boquinha.
No carnaval, é contigo que quero me isolar do mundo. Só nós dois!
Tá bom, tá bom!
Se quiseres, podes chamar uma amiguinha quase-inseparável!
É p’ra ti que quero enviar e-mails, mensagem via celular, telefonar só p’ra perguntar como foi o dia.
É no teu orkut que quero deixar scraps, p’ra não esqueceres que não esqueço de ti.
É contigo que quero comentar sobre o último Programa do Jô.
É contigo que quero tomar banho de chuva, caso a tua sombrinha laranja não possa nos proteger.
Se bem que contigo, não é possível me sentir desprotegido.
Nem sentar no banco molhado da Nauro Machado, me importa.
É p’ra ti que quero cantar desde que tenhas paciência p’ra escutar um desafinado.
E de preferência, que cantes comigo. Que tal uma praia à noite, um lual a sós?
É p’ra ti que quero compor. Ainda vou fazer uma canção de amor, que não apenas exteriorize um devaneio. Quero nome e sobrenome.

Tu és o sentido!
É contigo que quero mergulhar na piscina, no rio, nadar.
É contigo que quero fazer nada, ficar em silêncio, só admirando o esmero dos teus detalhes.
É contigo que quero andar a cavalo.
É contigo que quero voltar a ser criança, falar churumelas. É contigo que quero tomar água-de-coco, refrigerante, suco de bacuri, comer churrasco, lasanha, creme de cupuaçu.
É contigo que quero fazer planos. Tu és meus planos!
É contigo que quero ter um casal de filhos, caso, eu não roube Brenninho da minha irmã.
É contigo que quero dividir segredos.
É contigo que quero relembrar na velhice, dos momentos que tivemos juntos, quando for falar de um grande amor.
Não quero que tu sejas a nostalgia do passado que parou no tempo.
Quero a tua presença a cada instante.
É contigo que quero viver.

(31-03-2007)

DILEMA

(FÁBIO ALLEX)

A última cartada, cartas, cartões postais.
Abaixo da crista, cristãos, cristais.
Cortes, cicatrizes, seqüelas.
Preto no branco, chuvas, aquarelas.
Uma escuridão, subterfúgio, lanterna.
No apartamento, um rosto-espião, da janela.
Atleta aposentado, poeta descomungado.
Maldito infernizando, meretriz agonizando.
Fé, fóssil, fósforo, fovismo, fatídico, fertilizado.
Ventre, vitrola, ventríloquo, virose, viola, violado.
Sangue que escorre do pus das entranhas.
Casa impregnada de visitas estranhas.
Uma cidade, um refúgio, uma timidez.
Descontrole, terremoto, solidez.
Porta-novas-aviões, porto que o parta, parto, aborto.
Abismo, abismado, absurdo, abstrato, abraço, absorto.
Um corpo ébrio num mar de ressaca.
Escassez de riso, arsenal de piadas.
Um canto, um conto, um soluço, nenhuma solução.
Enquanto isso...
Um dilema no esquema, queima uma opinião.

(11-04-2007)

CAOS SEM DONO

(FÁBIO ALLEX/NATO SILVA)

Acontece, nem tudo é dever.
A direita tem contramão.
Pisado num país sem leito.
Cadê respeito, emprego, opção?

Nesta desordem que você caiu,
Quem pariu? P’ra que abortar?
Deixa que a gente vai se fuzilar,
Caso não trocar, arma por pão.

Acontece, vender alma é prazer.
A esquerda é sem direção.
Aprender a escrever meu nome!
Tanta fome, medo, contradição.

Foi no congresso que se omitiu.
Quanto sumiu? Quem ’tava lá?
Deixa a enchente transbordar.
Se eu me afogar, é menos um.

(14-05-2007)