quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

JOSÉ CHAGAS: POETA, PATRONO E CUMPRIDOR DE SUA SINA

POR FÁBIO ALLEX

(Publicada no Jornal Pequeno em 10/12/2011)

[...] Os anos me reexistindo, me resistindo, os ares me exigindo voo [...]”. A poesia 13,45, de José Chagas, inserida na obra ‘Os telhados’, de 1965, é apenas uma dentre tantas traduções de sua própria existência e da capital escolhida para acolher e ser acolhido. O paraibano mais maranhense do qual se tem notícia, patrono da 5ª Feira do Livro de São Luís, carrega no tom poético um misto de modéstia e agradecimento pelo preito, como quem se alimenta de tempo e dura horas inteiras de sonho. “Considero uma grande honra. Quando eu já nem merecia, é exatamente quando me fazem por merecer. Não sei como eu sou o patrono do negócio sem ser patrono de nada. Eu nunca fui patrono de coisa nenhuma. E agora estou sendo patrono, e, ao mesmo tempo, não sendo, porque eu não cumprir com o que deveria ser”, disse o escritor com a candura de quem desconhece a prática de vangloriar-se, mesmo entendendo que as homenagens são justas.
Poeta José Chagas
Portanto, no elevado grau de sua sabedoria, Chagas sempre teve consciência sobre aquilo que merece importância, tanto que já escrevera em ‘Alcântara’, de 1994: “[...] O tempo em seu eterno se condensa e a escuridão não sabe o quanto dá de seu mistério para a recompensa de uma idade parada noutra idade [...]”. Seria por isso a busca pela manhã exata, viva, definitiva? O tempo, aliás, tema recorrente em sua obra, aqui, em questão: qual a hora certa disso ou aquilo? Melhor agora ou outrora? O que poderia ter sido diferente? O que ainda se pode fazer? “[...] Aqui o tempo não dura em passar, mas em ficar à espera de quem o descubra como curtida matéria de vida pronta à ressurreição das coisas. São Luís é toda de manhã como o aviso claro de um dia [...]” (De ‘Canhões do Silêncio’, 1979).

Acostumado a ser lançado da janela, todas as manhãs pelo mirante, e dedicado a erguer palavras que eternizam o chão que habita desde 1948, agora o literato de 87 anos vividos e poetizados convive com aplausos do público e a fragilidade do seu corpo. “Eu já levei cinco quedas. Em uma delas, quebrei o braço esquerdo e arrebentei a cara todinha, isso há mais de ano. Quando foi domingo [27 de novembro], fui vestir a bermuda, escorreguei e cai sentado no banheiro. Não tinha quase ninguém por perto, e fiquei lá quase uma manhã inteira. Fiquei sem poder me levantar sozinho. Aí, não pude mais sair para lugar nenhum. Eu doido para vim dá uma volta, olhar a Feira”, relatou sobre suas limitações com angústia nas retinas.
Por causa dessa fragilidade que lhe acomete, a escrita começa a ficar de lado. Entretanto, apenas o ato de registrar, no papel, as reflexões e o lirismo que brotam de seu existencial. Todavia, a poesia, não. Esta prevalece. Os versos insistentes não querem findar. Teimam, persistem, ainda que já não tenham o intuito de serem compartilhados. “Ainda escrevo alguma coisa, mas é para mim. Acontece, às vezes, de eu escrever, de repente vem uma ideia. Outro dia escrevi uma estrofe, deixei em cima da mesa, e, dias depois, fui ver o que tinha escrito e não consegui, de forma alguma, entender. A minha letra é horrível”, contou o poeta.
Assim como o amor sem-fim por São Luís, que lhe faz desenhá-la com os mais elaborados contornos por meio de palavras, sua repleta obra ainda não é conhecida em plenitude, mas não por sua vastidão, e sim pela já descompromissada relação com a poesia. “Eu tenho muita coisa inédita que pode ser impressa ou não. Outro dia desses, uns amigos quiseram uma cópias de poemas, eu disse: podem levar, podem até colocar o nome de vocês. Eu não estou nem aí”, incentivou o maranhense de alma e por vocação.  
E, logo, desconfiando de quem doeu a vida, tomando a dor como aprendida, põe-se a escondê-la por detrás da fé. “Já fizeram miséria comigo. Já pensou o que é isso: a vida gostando de mim, e eu não gostando muito dela? Só que ela não me larga, me maltrata p’ra burro, mas não me larga”, relatou com requintes de ironia. “[...] E uma torre é gasta em já não ser mais torre, esvaída em sinos, seu silêncio é bronze [...]”. (De Os Telhados, 1965).

ENTRE POSSUÍDOS E POSSUIDORES

POR FÁBIO ALLEX

(Publicada no Jornal Pequeno em 10/12/2011)

Uma grande abertura para refletir e discutir nuances cada vez mais comuns em nosso cotidiano, que envolvem o mundo virtual, foi realizada no Auditório José Chagas, durante o penúltimo dia da já saudosa 5ª Feira do Livro de São Luís. O estopim da ocasião surgiu da obra recém-lançada ‘Internautas: os chips reinventando o nosso dia a dia’, organizado por Luiz Antônio Aguiar, do Rio de Janeiro, também um dos autores. “Será que o namoro mudou por causa do Facebook? E o amor, mudou também?” Estas são as primeiras indagações encontradas logo na contracapa da edição.

Internautas: os chips reinventando o nosso dia a dia

Trata-se de uma seleção de 20 contos, de vários autores de localidades distintas do Brasil, dentre eles, o psicanalista maranhense William Amorim de Sousa, autor do conto ‘Feliz Aniversário’ e palestrante da noite.
                                                                                                                                           Foto: Alessandro Silva
Psicanalista William Amorim em palestra na 5ª Felis

 
Amorim coloca em pauta as situações desencadeadas pelo ciberespaço, as quais enveredam para o bem-estar ou não dos internautas, que segundo o livro, “somos todos nós”. Nessa perspectiva, o autor lança olhares para questões que buscam analisar o comportamento do internauta diante dos bens tecnológicos e do vasto acervo de informações disponibilizados na Rede.  “Até que ponto esse assíduo usuário de internet pode tirar proveito dela? Será se os papéis se inverteram? Será se esse mesmo usuário não deixou de possuir a tecnologia para ser possuído por ela? Até que ponto ele consegue discernir a necessidade de usufruir dos aparelhos de última geração entre a vontade compulsiva de apropriar-se deles? Quais são as consequências nos relacionamentos interpessoais?”, disparou o palestrante.                     
            
                                                                                                                                         Foto: Alessandro Silva
Auditório José Chagas (FELIS)

Assim, em meio às inquietações oriundas do virtual, surgem mais indagações e menos respostas, atentando-se às mudanças e às novas perspectivas, sobre as inúmeras possibilidades de comunicação, reais e sempre passivas de transformações.
Ainda que seja possível perceber tais mudanças, não deixa de ser surpreendente a velocidade como elas se impõem e como se, em algum momento, as prioridades de nossas vidas perdessem o rumo por não conseguirmos seguir o mesmo ritmo. Assim, imerso no futuro que já chegou lembrando que cartas são cada vez mais raras e e-mails são cada vez mais sufocantes; que horas e horas são destinadas ao computador, enquanto sobra menos tempo para participar da vida longe da tela, inevitavelmente, não fica difícil acreditar que os internautas somos mesmo todos nós.
                                                                                           Foto: Fábio Allex
Amorim autografando o livro 'Internautas'




ABRAÇOS GRÁTIS! OUTRO VIÉS DA FEIRA

POR FÁBIO ALLEX

(Publicada no Jornal Pequeno em 10/12/2011)


Qual seria sua reação se, de repente, em algum local público, de muita movimentação, você fosse abordado por adolescentes de rostos pintados, saltitantes, exalando alegria, exilando males, exaltando a paz e o companheirismo, querendo lhe envolver com abraços?






Quem esteve na 5ª Feira do Livro de São Luís, mais precisamente no segundo dia de dezembro, além de contemplar e participar da vasta programação do evento, pôde também se surpreender e receber uma atração extra que trilhava na praça projetada pelo centenário Oscar Niemeyer: a turma do ‘Abraços Grátis’. A galerinha, além de apregoar a união, carrega no discurso (e nos abraços, claro), o desejo de oferecer, sem nada em troca, manifestações de carinho, como palavras de incentivo, a quem quiser, independentemente de classe social, padrões estéticos, raça, credo, sexo, idade.




Se para as bandas de cá, o mutirão de abraços é uma novidade, para as bandas de lá, em vários outros países, já está consolidado. De acordo com o site http://www.abracosgratis.com.br/, o ato ficou popular em 2004, na cidade de Sydney, por meio de um australiano conhecido como Juan Mann. Os abraços gratuitos passaram a ser ainda mais disseminados mundo afora, em 2006, após a disponibilização de um videoclipe, que já ultrapassa a marca de 71 milhões de acesso no Youtube, com imagens de Mann ofertando abraços pela cidade mais populosa da Austrália. O audiovisual contém a música ‘All The Same’, do grupo Sick Puppies, também do País dos Cangurus.

Seguindo a tônica do químico francês Antoine Lavoisier, de que ‘nada se cria, nada se perde, tudo se transforma’, a iniciativa foi copiada e trazida para São Luís pelos estudantes Thomaz Tobias, de 17 anos; Vitória Vieira e Yasmin Castro, ambas de 16 anos. A intenção singela e de etérea nobreza é propagar felicidade para desconhecidos e, assim, do mesmo modo, agregar em suas próprias vidas, esse estado de espírito que favorece a forma de lidar com o dia a dia. “Eu e minhas amigas [Vitória e Yasmin] estávamos passando por alguns problemas, estávamos tristes e resolvemos criar uma forma de ficarmos felizes. O abraço é o gesto mais bonito pra transmitir carinho e mostrar pra alguém que ele não está sozinho”, disse Thomaz.


E se agradar a gregos e troianos sempre foi uma tarefa árdua e indigesta em qualquer lugar (só para não dizer: impossível), não seria na Atenas Brasileira que isso iria acontecer. “É a terceira vez [na 5ª Felis] que a gente faz em São Luís. Fizemos duas vezes em um shopping. Tentamos fazer em outro, mas fomos expulsos. Algumas pessoas foram arrogantes, dizendo que têm mais o que fazer. Um disse não querer por que a cartolina [o cartaz usado com a frase abraços grátis] estava de cabeça pra baixo. E teve um cara que disse estar de dieta. O que isso tem a ver?”, relatou com ar de espanto.

Mesmo com raras e inevitáveis intempéries, a missão dos distribuidores de abraços tem sido cumprida. “Na primeira vez que a gente fez, a gente cantou aniversário pra uma senhora. Teve um cara que chorou ao me abraçar, dizendo que estava triste e era tudo que ele precisava naquele dia. Teve gente que [ao presenciar a ação] quis participar”, garantiu.


Sobre supostas segundas intenções passíveis de surgir em um momento inicial, o jovem faz questão de frisar que se trata de uma atitude sincera, e é apenas para contribuir com o bem-estar das pessoas que os cercam, sem pedir nada em troca, porém com a expectativa de ser agraciado com um sorriso. E se, porventura, alguém for visitado pela solidão, ela não deve ser hospedada, muito menos fixar residência. Todavia, se algo fugir do controle, um ‘basta’ precisa ser determinado. “Isso não é por dinheiro, não é de igreja, não somos de loja, não é pra divulgar nada, nem mesmo batom ou perfume”.



Para a trupe, a sociedade está muito individualista e ninguém pensa no próximo, a não ser em si mesmo. E a fim de remediar o desagrado, a fé e a poesia servem de inspiração. “Ainda que não estejamos representando alguma igreja, pensamos na parte da Bíblia que diz: ‘ame o próximo como a si mesmo’. [Segundo Mateus 19:19, a passagem bíblica discorre como: ‘Honra a teu pai e a tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo]. A gente se baseou também em uma frase do Cazuza, ‘abraço é o encontro entre dois corações’. E o abraço é pra mostrar: ei, você não está só, você tem amigo, somos irmãos e nós vamos passar carinho pra você, quando você precisar”.

Para quem quiser manter contato e agendar alguns abraços, foi criado um grupo no Facebook intitulado, previsivelmente, de ‘Abraços Grátis’. Entretanto, quem preferir deparar-se, inopinadamente, com os ‘abraçadores’ ludovicenses, o líder da iniciativa deixa um recado sobre a distribuição de afagos: “Agora que a gente está de férias, vamos fazer muito mais”. Entre braços que se misturam, pulsações que se convergem e carinhos que se entrelaçam, surgem os abraços, simples gestos capazes de humanizar a frieza dos mortais. Sendo grátis, melhor.





segunda-feira, 20 de junho de 2011

DA ARGILA ÀS MANIFESTAÇÕES INENARRÁVEIS

Por Fábio Allex

“Ele fez um boneco de barro (estátua), soprou em suas narinas o fôlego de vida e o boneco tornou-se uma alma vivente, com raciocínio, emoções e sentimento”. Gên. 2:7.

E é assim. Ou pelo menos, essa é a impressão que perdura nas retinas. Com ares regozijantes, com formas e expressões que encantam, os personagens produzidos por Nil Muniz nascem da argila, ganham dimensões e, por um instante, confundem quem as admira, induzindo a acreditar que nas peças de barro existem vida. 

E não é para menos. Afinal, um talento imbuído de tanta estética e lirismo fomentam a criatividade e a persuasão de olhares atentos que se embriagam de cultura e viajam no tempo. 

As mãos abençoadas com o dom das transformações inenarráveis, e de tamanhos quase inacreditáveis, são de Nil Muniz, 36, escultor que a partir de 1998, incorporou a arte de erigir do barro, cazumbás; fofões; bumba-meu-boi e vários outros personagens de quaisquer tamanhos e comprimentos, que caracterizam as manifestações populares. “Tudo pode trazer inspiração, principalmente as figuras que remetem ao folclore e a regionalidade do meu Estado”, diz o artista nascido em Morros a 100 km de São Luís.   

Aliás, foi na Terra Natal em que o escultor morroense desenvolveu seus dotes com a argila, durante curso voltado para a arte sacra. Seis meses dedicados à aprendizagem técnica foram suficientes  para lapidar a aptidão. 

Na oportunidade, os trabalhos eram desenvolvidos com cerâmica e madeira cedro, uma matéria-prima que deixou de ser usada por estar em extinção. Na época, o curso foi ministrado pelo escultor pernambucano, já falecido, Chico Santeiro.

Nil Muniz cedendo entrevista para uma emissora local



PASSO A PASSO
O Itinerário pelas quais a delicadeza e a perspicácia das mãos de Nil perpassam, é a argila trazida de Morros. Depois do processo de modelagem, que dura cerca de um dia, levando em consideração uma peça de 60 centímetros, o passo seguinte é o processo de secagem que pode levar até cinco dias. 

Bumba-meu-boi com detalhe dos pés do miolo (pessoa que fica sob o boi para realizar movimentos)
 A penúltima etapa dura sete horas num forno com temperatura de 800 a 1000 graus centígrados. Por fim, o toque final é a pintura com tintas plásticas e cores que vão de acordo com cada peça. A conclusão também varia, de uma a duas semanas, dependendo das proporções de cada obra. 

Cazumbá

DISSEMINAÇÃO DAS ESCULTURAS
Com cerca de 10.000 mil peças espalhadas por várias localidades do país e até do mundo, o principal destino das obras de Nil Muniz é para fora do território maranhense. “Infelizmente, o trabalho que desenvolvo não recebe a mesma valorização que os turistas dão. Viver de arte aqui (no Maranhão) é quase impossível. A gente sobrevive”, desabafou.


Desde a primeira divulgação, em 2001, o escultor já soma no currículo, cerca de 10 exposições, dentre stands no Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão (Ceprama); Festival Guarnicê; Congresso Norte e Nordeste de Governadores; em festejos juninos – seja em período de São João e em fora de época, como o “Vale a Pena Festejar”; além de carnaval, a exemplo do de 2005, com o tema “Vem Pular de Alegria” e mostras em Minas Gerais e Paraná. “São tantas peças que já perdi a conta. Frequentemente, encontro minhas criações em outdoors, capas de CD. Lamento, as pessoas não saberem que fui eu quem fez e não ter meus direitos autorais reconhecidos. Que a arte fale por si só”, disse


Governadora Roseana Sarney recebendo obras de Nil Muniz

Quem quiser contemplar, pessoalmente, as manifestações inenarráveis do escultor Nil Muniz, os contatos são: (98) 8735-7077/ 8139-2106/ 8718-4246.  

Saiba mais


CAZUMBÁ
O Cazumbá é um personagem que possui uma enorme e assustadora cabeça, normalmente representando a fachada arquitetônica de uma basílica ou catedral, usa uma grande túnica bordada ou pintada.
Não é homem nem mulher e nem animal, mas está entre a magia e o lúdico, relacionado com os espíritos. Pode ser interpretado como um dos monstros que amedronta Pai Francisco por matar o boizinho Mimoso. 

O auto popular do Bumba-meu-boi conta a história de Catirina, uma escrava que leva seu homem, o também escravo Chico, a matar o boi mais bonito e querido da fazenda para satisfazer-lhe o desejo de grávida: comer a língua do animal.
Descoberto o malfeito, o Amo - o fanzendeiro -, manda os índios capturarem o 'criminoso'. Para ressuscitar o boi, chama-se o pajé, uma espécie de doutor, a fim de realizar diagnósticos, receitas e magias. 

Finalmente, ressurgido o boi e perdoado o negro, a pantomima termina numa grande festa cheia de alegria e animação.
Muito usado nos grupos de bumba-meu-boi da região da Baixada Maranhense, o cazumbá, com seu bailado solto e marcante, é responsável por abrir os caminhos para o desfile passar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

MSCB


Fábio Allex & banda e manifesto oficial do Movimento da Mobilização Social e Cultural Baluarte (MSCB).


No ensejo do show do cantor e compositor Fábio Allex, ex-banda Mythra, em 25 de fevereiro, às 19h, no Canto da Ema, acontece o lançamento oficial do manifesto do Movimento da Mobilização Social e Cultural Baluarte (MSCB). Na ocasião haverá também relançamento do livro Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis, de Antonio Aílton.  

MOVIMENTO DA MOBILIZAÇÃO SOCIAL E CULTURAL BALUARTE (MSCB)
Fundado em 20 de abril de 2010, pelo cantor e compositor Fernando Atallaia, o Movimento Baluarte trata-se de uma ferramenta conceitual a fim de evidenciar diretrizes, propostas e abordagens voltadas para a conjuntura cultural do Estado a partir dos municípios. Ademais, é a ratificação de que a cultura maranhense não se resume em carnaval e São João.

Outrossim, é a defesa da pluralidade cultural oriunda de inquietações e questionamentos com abertura para adesões e diálogos com a sociedade, mídia e classe artística.

Vale salientar que o MSCB não é apenas um mecanismo para a promoção de trabalhos artísticos em prol do entretenimento, é, sobretudo, a oportunidade para debater sobre a “invasão cultural de outros estados” no Maranhão em detrimento da vasta produção local, isto é, sem contemplar a continuidade da arte produzida no Estado.

Desse modo, o Movimento busca reivindicar políticas públicas, compreender a função dos atuais gestores culturais e inserir os trabalhos supracitados em nível nacional.

Além disso, a manifestação visa preencher lacunas, romper arestas e dar vazão às perspectivas que, naturalmente, surgem no contexto cultural de cada Estado e em todas as gerações.

O MSCB reunirá todos os pólos artísticos do Maranhão, iniciando em Paço do Lumiar e percorrendo por São Luís, São José de Ribamar, Raposa, Alcântara, Pedreiras, Caxias, Imperatriz e, posteriormente, em demais cidades do Estado.

Contatos:
Fábio Allex (98) 9615-4816/ fabio-allex@hotmail.com
Fernando Atallaia (98) 8178-7045/ atallaia.baluarte@hotmail.com

 MANIFESTO 

1.      Contra a invasão cultural depredatória, violenta e sorrateira existente na geografia do estado e pela valorização do artista nacional (estadual) enquanto produtor em seu município de origem.

2.      Pela formação de uma plateia voltada para o trabalho artístico autoral e pelo fortalecimento de um público consciente e partícipe do debate nas esferas da estética e dos desdobramentos culturais.

3.      Contra a imposição midiática de uma cultura sobre a outra e supervalorização dos meios de comunicação em detrimento da produção artística.

4.      Pelo fortalecimento e viabilidade da livre criação de caráter original, assim como a propagação, difusão e divulgação em níveis de igualdade com outros estados brasileiros.

5.      Contra o favorecimento abusivo, politiqueiro e tendencioso de artistas em detrimento de outrem.

6.      Contra o bairrismo, folclorismo e ludismo exacerbados existentes no estado, elementos nocivos à universalidade da criação e expansão artística.

7.      A favor de todas as formas de expressão do pensamento, embasadas nas aspirações humanas mais profundas, peculiares, inatas e idiossincráticas.

8.      Contra a desigualdade cultural perceptível e patrocinada pelos meios de comunicação, onde imperam programações lineares, homogêneas e repetitivas, orquestradas propositadamente pela indústria fonográfica no Estado. Contra o jabá e os aliciamentos escusos mantidos pela indústria cultural de exploração nessa área.

9.      Contra as formas de entretenimento barato, propulsoras da alienação, do embrutecimento e da violência.

10. Por uma grade de programação livre e plural, que contemple as abordagens musicais concebidas a partir da diversidade sonora deflagrada em todo território estadual.
11. Pela inclusão do artista estadual (de todas as gerações) nas grades de programação dos eventos promovidos pelas secretarias de cultura estadual e municipal.

12. A favor de um intercâmbio cultural aberto e dimensionado na excelência das vertentes, tendências e expressões artísticas múltiplas (intercâmbio literário, teatral, coreográfico, histórico, musical) existentes no Estado.

13. Contra a Cultura como área de atuação governamental secundária e complementar, voltada para o entretenimento datado, como festas e comemorações.

14. A favor da Cultura como área de atuação essencial, com determinações sistemáticas dentro de um programa que contemple todas as formas de expressão artísticas em projetos culturais semanais, direcionados aos mais diversos públicos.

15. A favor da Cultura como estrutura governamental imprescindível e de alta e flagrante importância, assim como são as áreas da Saúde, Educação e Segurança Pública.

16. Pela democratização da cultura e da arte como forma de construção da cidadania e consolidação de políticas de educação cultural pragmáticas e atuantes.

17. Pelo casamento das pastas de Educação e Cultura nas esferas dos governos municipal e estadual, ou seja, dar vazão, flexibilidade e praticidade às ações de ambas.

18. Pela profissionalização do artista maranhense e valorização de seu trabalho artístico, enquanto multiplicador, agente e produtor cultural, com cachês e pagamentos dignos, definidos em nível nacional, em suas respectivas áreas de atuação.
19. Pelo debate e discussão em torno do fazer cultural em todas as áreas artísticas e promoção de eventos culturais (palestras, mini-cursos, workshops, debates, seminários, conferências, encontros) nas redes estadual e municipal do ensino público.

20. Pelo mapeamento, pesquisa e levantamento de dados de autores e obras culturais que estão à margem do processo de visibilidade, sofrendo arestas em suas produções e confinados ao ostracismo, no tocante ao reconhecimento do público e das novas gerações.
21. Pelo fortalecimento da memória histórica, cultural e artística e sua consolidação nas esferas do Patrimônio Material e Imaterial, Antropologia Aplicada, Museologia, Historiografia e Educação.

22. Pelo mapeamento e acessibilidade das linguagens artísticas concebidas nos municípios maranhenses e nas comunidades a eles pertencentes.

23. Pelo fortalecimento da identidade cultural nos municípios, a partir de medidas práticas (produção de espetáculos, antologias, livros, coletâneas, debates, encontros, reuniões, álbuns, discos, programas culturais consistentes e contínuos) de valorização do artista e produtor estadual residente nos mesmos.
24. Pela construção e elaboração de um Plano Anual de Cultura que contemple todas as áreas e segmentos artísticos dentro da indústria cultural (editorial, fonográfico, curadoria, espetáculos, pesquisa, gestão).

25. Pelo diálogo e livre interação entre a Cultura e demais áreas sociais (Turismo, Hotelaria, Educação, Políticas e Segurança Públicas, Saúde), no intuito de estabelecer e gerir programas e projetos culturais voltados para as necessidades e lacunas das áreas em questão.

26. Pela fomentação, produção e registro de shows e espetáculos que dêem visibilidade às nuances criativas dos artistas do Estado, sem pré-conceitos, separatismos, acepções e distinção.

27. Pelo Rock; Baião; Jazz e Tambor de Crioula; pelas Artes Plásticas e pelo Hip-Hop; por Miles Davis; João Mohana e o Samba-Blues; por Beethoven e Patativa; por Nauro Machado e Baudelaire; pela Praia Grande e pelos Ares Sul-Americanos, Africanos e Europeus; por Lucy Teixeira e Silvia Plath; por Uimar Cavalcante e Al Jarrour; pelo Portinho e pelo Museu do Louvre; por Andy Warhol e Ciro Falcão; por James Brown e César Teixeira; por Frank Sinatra e João do Vale; por Mestre Antonio Vieira e pela Motown; por Leonardo da Vinci e Antonio Almeida; pelo Butoh e por Olinda Saul; por Harold Bloom e Franklin de Oliveira; pelo Bebop e pela Soul Soul; por Charles Aznavour e Raimundo Soldado; por Billie Holiday e Célia Maria; por Chet Baker e Nonato e Seu Conjunto; pela poesia das pessoas; do Pessoa; do chão e das alturas; pelos regimentos existenciais de Deo Silva e José Régio; pela ilha que se esvai e pelo parto diário de Nascimento Morais Filho; pela fome e pelo pão nosso e vosso de  cada dia; pelos proventos mensais do artista que precisa beber; comer e vestir; pela conta de luz e água do cantor; pelo feijão e arroz do poeta; pela conta de telefone do escritor e pelo material escolar de seus filhos; pelo ardo e sofrível trabalho educacional; humanístico e   pensamental do artista; e por todos aqui presentes; que assim o queiram. Eis aqui o nosso Movimento!