segunda-feira, 20 de junho de 2011

DA ARGILA ÀS MANIFESTAÇÕES INENARRÁVEIS

Por Fábio Allex

“Ele fez um boneco de barro (estátua), soprou em suas narinas o fôlego de vida e o boneco tornou-se uma alma vivente, com raciocínio, emoções e sentimento”. Gên. 2:7.

E é assim. Ou pelo menos, essa é a impressão que perdura nas retinas. Com ares regozijantes, com formas e expressões que encantam, os personagens produzidos por Nil Muniz nascem da argila, ganham dimensões e, por um instante, confundem quem as admira, induzindo a acreditar que nas peças de barro existem vida. 

E não é para menos. Afinal, um talento imbuído de tanta estética e lirismo fomentam a criatividade e a persuasão de olhares atentos que se embriagam de cultura e viajam no tempo. 

As mãos abençoadas com o dom das transformações inenarráveis, e de tamanhos quase inacreditáveis, são de Nil Muniz, 36, escultor que a partir de 1998, incorporou a arte de erigir do barro, cazumbás; fofões; bumba-meu-boi e vários outros personagens de quaisquer tamanhos e comprimentos, que caracterizam as manifestações populares. “Tudo pode trazer inspiração, principalmente as figuras que remetem ao folclore e a regionalidade do meu Estado”, diz o artista nascido em Morros a 100 km de São Luís.   

Aliás, foi na Terra Natal em que o escultor morroense desenvolveu seus dotes com a argila, durante curso voltado para a arte sacra. Seis meses dedicados à aprendizagem técnica foram suficientes  para lapidar a aptidão. 

Na oportunidade, os trabalhos eram desenvolvidos com cerâmica e madeira cedro, uma matéria-prima que deixou de ser usada por estar em extinção. Na época, o curso foi ministrado pelo escultor pernambucano, já falecido, Chico Santeiro.

Nil Muniz cedendo entrevista para uma emissora local



PASSO A PASSO
O Itinerário pelas quais a delicadeza e a perspicácia das mãos de Nil perpassam, é a argila trazida de Morros. Depois do processo de modelagem, que dura cerca de um dia, levando em consideração uma peça de 60 centímetros, o passo seguinte é o processo de secagem que pode levar até cinco dias. 

Bumba-meu-boi com detalhe dos pés do miolo (pessoa que fica sob o boi para realizar movimentos)
 A penúltima etapa dura sete horas num forno com temperatura de 800 a 1000 graus centígrados. Por fim, o toque final é a pintura com tintas plásticas e cores que vão de acordo com cada peça. A conclusão também varia, de uma a duas semanas, dependendo das proporções de cada obra. 

Cazumbá

DISSEMINAÇÃO DAS ESCULTURAS
Com cerca de 10.000 mil peças espalhadas por várias localidades do país e até do mundo, o principal destino das obras de Nil Muniz é para fora do território maranhense. “Infelizmente, o trabalho que desenvolvo não recebe a mesma valorização que os turistas dão. Viver de arte aqui (no Maranhão) é quase impossível. A gente sobrevive”, desabafou.


Desde a primeira divulgação, em 2001, o escultor já soma no currículo, cerca de 10 exposições, dentre stands no Centro de Comercialização de Produtos Artesanais do Maranhão (Ceprama); Festival Guarnicê; Congresso Norte e Nordeste de Governadores; em festejos juninos – seja em período de São João e em fora de época, como o “Vale a Pena Festejar”; além de carnaval, a exemplo do de 2005, com o tema “Vem Pular de Alegria” e mostras em Minas Gerais e Paraná. “São tantas peças que já perdi a conta. Frequentemente, encontro minhas criações em outdoors, capas de CD. Lamento, as pessoas não saberem que fui eu quem fez e não ter meus direitos autorais reconhecidos. Que a arte fale por si só”, disse


Governadora Roseana Sarney recebendo obras de Nil Muniz

Quem quiser contemplar, pessoalmente, as manifestações inenarráveis do escultor Nil Muniz, os contatos são: (98) 8735-7077/ 8139-2106/ 8718-4246.  

Saiba mais


CAZUMBÁ
O Cazumbá é um personagem que possui uma enorme e assustadora cabeça, normalmente representando a fachada arquitetônica de uma basílica ou catedral, usa uma grande túnica bordada ou pintada.
Não é homem nem mulher e nem animal, mas está entre a magia e o lúdico, relacionado com os espíritos. Pode ser interpretado como um dos monstros que amedronta Pai Francisco por matar o boizinho Mimoso. 

O auto popular do Bumba-meu-boi conta a história de Catirina, uma escrava que leva seu homem, o também escravo Chico, a matar o boi mais bonito e querido da fazenda para satisfazer-lhe o desejo de grávida: comer a língua do animal.
Descoberto o malfeito, o Amo - o fanzendeiro -, manda os índios capturarem o 'criminoso'. Para ressuscitar o boi, chama-se o pajé, uma espécie de doutor, a fim de realizar diagnósticos, receitas e magias. 

Finalmente, ressurgido o boi e perdoado o negro, a pantomima termina numa grande festa cheia de alegria e animação.
Muito usado nos grupos de bumba-meu-boi da região da Baixada Maranhense, o cazumbá, com seu bailado solto e marcante, é responsável por abrir os caminhos para o desfile passar.