domingo, 22 de abril de 2007

A LÁGRIMA E A PISCINA

(FÁBIO ALLEX)

Depois de claras e longas escuras, uma outra luz volta transcender meu ser.
Invadiu-me a alma calma, leve, breve e permanente. Mil segredos sem mistérios,
Sete chaves, pratos limpos. Desvenda a avestruz, encoraja o retrocesso pontual.
Atualmente quero... Mero momento, espero. Guia e desvia, cala e grita, mas toca e
Soa, corre e sua, bebe e come, fome e juliana, transa e ama, mata e nasce, dorme,
Ver, não crer, sente, mente. Não ao meio-termo o tempo inteiro.
Quero o extremo, o acaso, o fracasso, a vitória.
Não ao óbvio, quero o abstrato sem fatos consumados, todos os argumentos.
Quero ser o indolente perseverante, a cesariana, o mudo, o ultra-som, o cigarro,
Veia-artéria, libras e fonemas.
Não quero ser um conquistador barato, quero dar a cara a uma cara conquista.
Não quero poderes, quero só poder fazer o que posso.
Não quero uma lágrima, quero encher a piscina.
Quero os olhos, o olhar, a vista, o novo horizonte.

(03-01-2003)

ARTE

(FÁBIO ALLEX)

Troca de olhares.
Olhos fechados.
Imaginação a vapor.
Pêlos eriçados.
Acordes por todos os poros.
Arrepio da alma.
Mãos aflitas.
Boca sedenta.
Lactante!
Língua, saliva, sal.
Pele em ebulição.
Umidade torrencial.
Lucarna!
Músculos contraídos.
Movimentos anatômicos.
Matérias distintas.
Mesmo espaço.
Suor, odores, sensores.
Frenesi, fricção, fervura.
Dilatação das artérias.
Corações a 100 km/h.
Opostos, perdidos, confundidos.
Palavras ditas sem nexo.
Respiração a jacto.
Ecos de sons plangentes.
Ardência indolor.
Penumbra de testemunha.
Chegada ao destino...

Descansar?
Fumar um cigarro?
Quantas viagens?
Quantos paraísos sugados e percorridos?

...Arte!...

(20-04-2007)

BANHO DE SAIS

(FÁBIO ALLEX)

Vejo um céu de anil, sinto um tempo veloz.
Como as chuvas que caem, as lágrimas saem.

Vou ficar com as noites que trazem tua voz, vou esperar o dia ruir.
Não me surpreenderei quando estivermos a sós, sinto tua presença junto a mim.

Ouço o que já se ouviu, mas que ninguém antes falou.
A beleza das rosas me distrai, e toco em seus espinhos sem dor.

Vou ficar com as noites que trazem tua voz, vou esperar o dia ruir.
Não me surpreenderei quando estivermos a sós, sinto tua presença junto a mim.
Ela é paz, me acalma. Querem mais, meu corpo e alma.

Meus poros clamam por teu batom. Tua respiração é luz, teu calor é som.
Bebendo água pura da fonte, estou.
Se não for, alguém me diga, por favor, o que é amor.

(07-02-2005)

DEPOIMENTO

(FÁBIO ALLEX)

Mulher, você é todas as coisas mais belas, é banquete à luz de velas, é tudo onde há vida,
é o que se brinda, é graça, é a criança correndo na praça.

De Deus é arte; de mim faz parte! É o gosto bom que fica na boca.
É a minha voz rouca por gritar-lhe quando você some, é o saciar da minha fome.

É a suavidade que fica na pele, é a convalescença de quem se fere.
É massagem na alma, é o acaso, é lucidez, é embriaguez de calma.
É o fruto doce que não se colhe maduro, é a luz que existe no fim do obscuro.

Você é a chuva que cai no sertão, é o itinerário da minha direção.
É o maior valor que não tem preço, é o que sinto agora, o que me aflora, é o meu começo.
É o nascer e renascer do mundo, é o mergulhar no amor até o fundo.

É a alteza, minha leveza, magia, Impressionismo.
É a minha musa, minha virtude, saúde, Concretismo.
Você é a sabedoria que se reflete, é o cheiro bom, são as minhas vestes.

É o sentimento do cancioneiro, é o que me faz a creditar na sorte,
é o que me deixa mais forte, é o que me faz sentir inteiro.

Mulher, tão singular, sem você nada se plurificaria.
Triste do homem não entender que sem você nada seria.

(03-03-2008)

MÚSICA E POESIA

(FÁBIO ALLEX)

Aonde vais, eu já cheguei. O que planejas, eu já produzi.
O que tentas; eu, um milhão de vezes. O que derrubas, eu levanto.

Houve um descaso.
De um lado, o laço corrompeu.
O último beijo, ninguém deu.

O que sonhas, eu já despertei. O que silencias, ouço aqui.
O que prometes; eu, talvez. O que comes, sou eu que planto.

Sobram vestes.
Nelas, o nosso perfume ficou.
E nada apaga essa troca de olhar.

O que contas, eu que profetizei. O que distancias; eu, na mesma casa.
O que tu nunca, eu p’ra sempre. Onde secas, levo meu pranto.

O mergulho é longo.
No fundo: mãos a se encontrar.
A luz que finda vem nos abraçar.

...Tu tens a música p’ra minha poesia.

(04-11-2005)

NENHUMA PALAVRA

(FÁBIO ALLEX)

Estou indo embora, e vou sem olhar p’ra trás. Levando comigo, as boas lembranças.
Dos erros, jamais esqueço. Somos um processo de evolução.
Não me arrependo de nada, não vou proferir nenhuma palavra.
Tudo até aqui fala por si só. Quiçá, um dia volte. Vai ver, nunca fui.
Corpos dispersos, mas os pensamentos: único.
A palavra que eu quis negar fez-se presente, fez-se lar; deixou a porta aberta,
Pós tapete vermelho esperando que pudesses entrar.
Porém, se uma parte de ti quer ficar e a outra necessita ir:
A necessidade é implacável; o desvencilhamento, inevitável.
A minha mão, jamais te negarei. Ela é tua. Mas estou indo embora.
Em paz, tranqüilo, com o sentimento de dever cumprido.

(13-07-2005)

O NEXO URGE

(FÁBIO ALLEX)

Eu perco os passos, não acho o chão, não meço o tempo.
Saio de cena, mexo na antena, fico sem ar.
O vento leva, relevo o dia e vou dormir.
Aconteceu, não agradeceram, foi esquecido.
Um disparo, olhos miram, a mão arrisca.
Esparziu, tantas estrelas, procela à noite.
Palavras erradas, cola nos sapatos, o nexo urge.
Medalha no peito, cabeça a prêmio, licitação.
Desconversa, telefone ocupado, sentido obrigatório.
Um corpo gemendo, tantas vozes, um orfeu.
Tantas pessoas, o mundo é mundo, é trivial.
É abstrato, compreendido, tudo em vão.
Vários desejos, um ensejo, cegueira à vista.
A porta abre, um labirinto, o Sol esconde-se.
A tez cansada, agro sorriso, singra no mar.
Sangra ao voar.

(19-04-1999)

PORTA-NOVAS

(FÁBIO ALLEX)

De volta ao passado que nunca vivi.
Vou andando pelas ruas em que um dia morei.
Procurando um espaço, em passos longos não me acho.
Tudo ficou como eu deixei.

E outros olhos, cá nos meus, deixaram uma visão.
Mas não me iludo, o chão é duro demais.
O infinito por acaso, pormenorizado em mil pedaços.
Nada ficou como eu deixei.

Um leva e traz parou o tempo e roubou-me o verão.
No jardim murcharam flores, que em cores no meu colchão.
Que palavrada tão cortês! Pois, todo mundo tem sua vez.
Todavia, nada foi como imaginei.

O mal-ajambrado deslumbrado deslembrou de contar
Do recital requintado... Um bequadro na solidão.
Parabéns pelo seu dia! A felicidade é boa companhia.
Tudo saiu melhor do que pensei.

(28-06-2001)

SEMENTES

(FÁBIO ALLEX)
Musicada por Kadú Ribeiro

Eu não imaginava que fosse assim...
Eu não esperava que florescesse aqui.
Alguém plantou, pois brotou. Há um jardim dentro de mim.
Foi tão de repente, não pude nada fazer.
Se há uma semente, regue p’ra ela crescer.
Podar, cultivar; eu, raízes em você.
Desprevenidamente, fui acertado em cheio.
Fui um alvo, e preciso do seu querer.
Como o pássaro das asas p’ra voar, como o barco precisa do mar.
Chuva, sol, vento e terra. Semeado e germinado.
Alguém plantou, pois brotou.

(17-03-1999)

SEM-SEGUNDO

(FÁBIO ALLEX)

Desculpe se não pude dar a atenção merecida.
Pelo suicida que sou, não poderei te levar comigo. Ninguém poderá ir.
Lá, muitas almas por entre becos, gritos roucos, muito medo, fé cansada,
Precipitação, loucura fatal, sofrimento.
Foi mal, não poder ficar mais, minha querida. Não diga nada, meu amor.
O tempo todo corremos perigo. Mas, ninguém vai destruir:
Nossas bocas e o beijo, nossos corpos e um desejo, tua pele e minhas mãos.
Teu rosto é real. É momento.
Duas bocas e um beijo, dois corpos e o ensejo, nossas vidas pelo chão.
Tua voz é Natal. Mas é momento.
Inquietude e muitas léguas; lápis, borracha e régua, espasmos sem compaixão.
O riso é carnaval. O resto, detrimento.
Mas há sentimento em nossas línguas: água e sal.
Não há igual.

(22-11-2004)