terça-feira, 23 de setembro de 2008

LUZ DAS ACÁCIAS

(FÁBIO ALLEX)
Para Cácia Samira

Eu te avisei que a chuva se esquivaria, que o firmamento voltaria a clarear.
Eu te profetizei nas letras que eu escrevia, muito antes de vires me visitar.

Meu oceano de paz, tu és muito maior que a imensidão.
A fé em nossa casa, nossos caminhos: nossa consagração.

Chega de ferro e fogo!
E não importa se era deserto ou se era pouco.
E se o incerto traz sufoco.
O momento é de afeto e flor.

Muito obrigado por colorir os meus dias, por colocar tudo em seu devido lugar.
Nada melhor do que as nossas mãos trançadas e sermos discípulos do Amor.

Tu és instrumento divino que veio interceder por nós.
Acostumar-se com o que é bom é muito fácil. Minha audição e tua voz.
Que o bem seja a nossa liderança.
Mergulhar em unção e temer somente o Pai.

Conta p’ra mim, só p’ra mim, meu Jasmim, se os teus encantos não têm fim.
Em qual jardim estão teus segredos? Ensina-me a plantar e a florir!
Onde mais, além de aqui, a tua luz irradia? Teu sorriso metálico também é meu sorrir.
Como cabe em ti, tamanha ternura? Minha formosura, minha fonte.

(25-08-2008)

VAZA-BARRIS

(FÁBIO ALLEX)

...E vou seguindo sem medo, sei o quanto sou capaz.
Mesmo não sendo tão cedo; a vida se renova, se refaz.
Não faço segredo, quero mesmo sempre mais.
Mas por amor, eu concedo todos meus brilhos-metais.

De longe, alguém encoberto de luz acena p’ra mim.
Foi sempre assim: no meio e beirando o fim.
Na memória, o perfume das flores do meu jardim.

Longo caminho enveredo. No chão, folhas e cristais.
Na boca, um gosto azedo que sobrou de outros carnavais.
Construo meu enredo e bordo com a cor lilás.
Sou a paz, o folguedo, sou a fome contumaz.

O dito como certo não é sempre o que devo...

(06-10-2005)

OUTRAS PALAVRAS

(FÁBIO ALLEX)

Aí vou eu de novo, andando por aí.
Despertando ideias que presas ficaram cá dentro de mim.
Sem saber aonde vou parar, que dimensões as ideias vão tomar.
Quase pedi socorro, por um momento pareceu o fim.
Não foi pseudopia, fui a fogo-morto, mas estou aqui.
Sem nove-horas parei p’ra me reencontrar, e encontrei vários corpos no mesmo lugar.
Tantos mundos girando em torno de mim e eu, entre paredes.
Falta de comida alimentando a fome e eu, tomando sede.
Sou mais forte que o vento que soprou, tenho sementes, sete-fôlegos e motor.
Pois não ser igual, não me faz ser diferente...
Quais foram os voos afogados na rodoviária? A verdade! Por que é que mentes?
Com outro acorde, toco outra canção, viro a página e troco de lição.
Agora é só tomar mais precaução, antes de tonar a modulação.

(15-03-2002)

NÃO TE DOU O PEIXE

(FÁBIO ALLEX)

Ainda vou cruzar o teu caminho, ainda vou mirar no teu olhar.
Nos momentos que me sinto perdido, consigo te achar no meu pensar.

Se tu quiseres outra direção, dou-te um beijo, estendo-te a mão, dou-te a rede,
Mostro-te o mar, não te dou o peixe, mas te ensino a pescar.

Da indiferença a um estranho no ninho. O amor é bom, vem aprender a amar.
Alguns tormentos, algo indefinido. Um pedaço de pão e uma vontade de abraçar.

Se tu quiseres outra direção, dou-te um beijo, estendo-te a mão, dou-te a rede,
Mostro-te o mar, não te dou o peixe, mas te ensino a pescar.

“Eles passarão e eu, passarinho”. Cheiro de Quintana. Feche os olhos, sinta o ar.
Encantamentos, criança sorrindo. Bem-ouvido, ouço o sol n’outro luar.

Se tu quiseres outra direção...

(11-04-2002)

CONVERGENTE

(FÁBIO ALLEX)

Para seu deleite, eu cair outra vez. Vou me procurar, sempre me acho.
Vou me mandar daqui, ou não, nem sei.
A cabeça às vezes pesa e flutua demais.
Não vou lhe redargüir com palavras, é inefável.

Simplesmente, seguir em frente, eu vou, (paulatinamente, certamente), eu vou.
Puramente, convergente, eu sou (contente novamente), estou no amor.

Esperei de você, o bem que lhe fiz. Que grande erro!
Da próxima vez se te ver que fazer, vou só fazer.
Venço, logo insisto. Com a honra à flor da pele, com o tal desejo que faz sonhar.
É preciso a bandeira no alto do mastro tremular.
Seu olhar sorrindo, o balé e a ingratidão. Tudo tão virturreal.

Simplesmente, seguir em frente, eu vou (paulatinamente, certamente), eu vou.
Puramente, convergente, eu sou (contente novamente), estou no amor.

(01-07-2002)

5INCO VIDAS

(FÁBIO ALLEX)

Nunca se sabe o que vem, falei p’ro seu bem, mas você ignorou.
Em meio a um ímpeto só, disse que seria melhor, ir com a cara e a coragem.
É cada um de um jeito, e do seu é p’ra quem tem peito.
Roendo as unhas e aguardando arranhões.
Contou-me histórias, revirou reviravoltas, sob erros sem perdão.

Atrasou o seu relógio, suas roupas estão do lado avesso.
O que você quer, eu não posso. Não me tente, eu me conheço.
Cinco vidas p’ra matar, só dois tiros p’ra usar. Nesse jogo só de azar,
Não sou eu quem vou ganhar.
Vou me perder, vou me achar, achar você, nos encontrar (reencontrar).

Uma voz nas entrelinhas deu um fim ao que não existia, proclamando outra razão.
Entre mudos e calados, entre mortos e drogados, entre perdidos e abandonados.
Com os olhos vendados, os pés soterrados, a espera de alguém que não voltará.
Nos escuros existe luz. O tempo é quem a conduz para os olhos da teimosia.

(27-08-1999)

INUSITADO

(FÁBIO ALLEX)

Não aconteceu o que eu tanto esperava. Aconteceu o que nem imaginava.
Surpreendi-me. Foi tão estranho.
Não anoiteceu na hora marcada. Tudo esclareceu em hora inadequada.
Chuva forte que veio com sol. Peixes e mares, pescadores sem anzol.
Sinal aberto e o trânsito parou, uma idéia e a luz apagou.

Talvez, eu plante um pão e o peixe volte ao aquário.
Outro fósforo, fé e mãos.
O inverso do contrário.

Tanto sono e eu, não dormi. Sonhos com olheiras pedem-me p’ra vir.
Desconhecidos dentro da minha casa, muitos vôos e nenhuma asa.
Diversos versos e um só universo. Vários: ”Não”, mas ainda te peço.
Tantos nascimentos e nenhum sobrevivente.
Tantas vidas de seus corpos ausentes. Primavera que murchou a estação.
Melodias e acordes silenciaram a canção.
O mundo no liquidificador, uma TV sem áudio e cor.

Talvez, o céu sob o chão e o macaco volte ao galho.
Rosas, pés, visão.
Um verso p’ra um otário.

(03-07-1999)

HÁ TANTAS MOSCAS

(FÁBIO ALLEX)

Sai, mosca! Cheguei primeiro aqui! Selecione outro lugar p'ra ir.
Voa, mosca, p’rum outro ar! Procure quem possa lhe ajudar.

Sou só eu no mundo, ninguém p’ra me amparar.
Não tenho nem escolha. Senão apenas aceitar.
A paz não existe, já tentei achar.
Pelo menos um prato amigo p’ra amenizar.

Sai, mosca, não tenho onde morar! Sorte de você que sabe voar.
Voa, mosca! Este lixo é meu! Por favor, só mexa no que é seu!

Sou de todo lugar, sou de lugar nenhum.
A minha casa é tão grande, nunca estou só.
Já faz tempo que eu nasci, sequer percebi.
A vida nem começou e eu já morri.

(13-01-1999)

OUTROS REDORES

(FÁBIO ALLEX)

As vidas, o tempo, uma foto, geração; um caminho, um olhar, sentimentos, coração.
Vozes, o sol, um gol, celebração; datas, coincidências, acordes, violão.
Versos, o azul, bandeira, revolução; paisagens, reencontros, estrelas, televisão.

Agora, são outros redores ou sumiu tudo que estava aqui.
Agora, são outros redores, fiquei tonto, quase cair.
São outros tantos redores e de tudo um pouco já vi. Variados, vastos redores.
Nada vejo e nada p’ra sentir.

Ouro, inverno, fogueira, uma canção; sonhos, o verde, o oposto, um aperto de mão.
Afagos, conquista, profecias, religião; o sangue, mares, lugares, outra direção.
Aprendizado, aromas, vôos, ilusão; acasos, bocas, plantio, emancipação.

Agora, são outros redores ou sumiu tudo que estava aqui.
Agora, são outros redores, fiquei tonto, quase cair.
São outros tantos redores e de tudo um pouco já tive. Variados, vastos redores.
Não mais tenho e sinto não sentir.

(21-08-1999)

MOTOR

(FÁBIO ALLEX)

Longe do efêmero. Autêntico, sublime, digno.
É a chama molhada de afinidades, de paz.
Impelente encontro marcado ou casual.
Belo, simpatia, carinho, apego, amizade.

Quando no peito é forte o barulho do motor: aqueceu o carburador
A fumaça não tem cheiro, não tem cor. Mas, há fervor.

Vértice, o cume, fastígio elevado, apogeu.
Prazer, viver, sonho real, veneração.
Divindade, céu, matéria-obra-prima, espiritual.
Frutos, bendito, razão passional, sexo.

(20-05-2000)