domingo, 3 de fevereiro de 2008

SOBRE A PREVISÃO

(FÁBIO ALLEX)

Não lhe culpo de nada, nem por qualquer pressuposto.
Mesmo que fique o rosto, este ano acaba antes de agosto.

Não acredito que eu vá entender a sua decisão.
É, eu tinha razão: às vezes, o prazo antecede a previsão.

Ora, riacho.
Por hora, Rio Grande.
Outrora, Porto Alegre.
Agora, cais triste.

As palavras falham, eu sei, e eu fiquei perdido.
O medo é labirinto. Nos protegemos até do que não foi dito.

"Que seja doce" - diria Caio Fernando Abreu.
Digo: sou seu, em qualquer lugar, no Sul, no infinito.

Ignora o riacho.
Vou embora p'ro Rio Grande!
Outrora, Porto Alegre.
Agora, cais triste.

Não sei se anoiteço, não sei se apareço.
Não sei se envelheço ou viro do avesso

Não sei se mereço, não sei se padeço.
Não sei se lhe esqueço ou volto p'ro começo.

A minha dor de dente até passou, quando vi você.

(21-07-2007)

NÃO É BRINCADEIRA

(FÁBIO ALLEX)

Fizeste o quê comigo, hein?! Pois levei a maior tombeira!
Já sei! Deste-me uma rasteira! Lutas o quê?... Ou atiraste em mim?
Eita, que mira certeira!... Nada disso? Vai vê, tu és uma feiticeira.
Mas, cuidado com o meu coração, ele não é de madeira.

Tu deves ‘tá achando tudo isso uma asneira, né?
Só que eu ‘tou falando sério, não é brincadeira. Antes, eu tava meio assim: de bobeira.
Fiquei muito tempo na fileira, esperando alguém que me despertasse uma paixão verdadeira.
Só surgia pagodeira, forrozeira, axezeira. E quem me aparece?
Tu, minha Formosura! A minha Musa, minha Companheira, minha Parceira!
A única e a primeira! Quiçá, a derradeira...

Nossa! Eu devo ‘tá te dando uma canseira!
Saibas que o meu sentimento por ti, não cansa; queima! Queira-o! Aquece mais que a fogueira.
E os teus beijinhos!... Caramba! Maravilhosos!
Se eu pudesse, colocá-los-ia em uma prateleira, em uma cantoneira.
Tiraria de lá, a minha biscoiteira.
Melhor do que isso seria te encontrar, ao ir tomar banho, em minha saboneteira.
- "Ê, rapaz, besteira!".
É sério, não é brincadeira.

Realmente estou de quatro por ti. Duvidas?
Então, podes chamar a casamenteira!
Vou falar da minha paixão na imprensa, outdoors, vou contar p’ra novidadeira.
Não tenho nada a esconder, o que sinto é muito bonito.
Podem vir, bisbilhoteiras!

Faço tudo o que preciso for, meu Anjo.
Pinto-me de palhaço, rolo no chão, planto bananeira, pulo a ribanceira,
vou em carro sem freios em qualquer ladeira.
Olha, sobre o carro é brincadeira...

Quanto aos obstáculos que poderemos enfrentar, não importam as pedreiras. É da vida.
Vou levar a minha britadeira.
E sempre serei teu vigia, dar-te-ei proteção, farei tua escolta.
Sejas a minha patrulheira!

É isso. Estou morrendo de saudade. Vê se não me dar um chá de cadeira!
Vou ficar por aqui, está acabando a minha tinta, secando a tinteira.
Pôxa, substância fuleira!
Só o que sinto por ti não acaba, é infinito, dura a vida inteira.

(29-03-2007)

O ARCO E O VIOLINO

(FÁBIO ALLEX)

De tudo que me partituras, nada esqueço, decoro.
Musicado pelo teu olhar, fico do avesso, afloro.
Se perco o teu compasso, me entristeço, ignoro.
Quando finda tua orquestra, desapareço, imploro.
Arremesso-me na tua melodia, me estabeleço, moro.
No âmago dos teus timbres, enlouqueço, devoro.
Afagado pelo teu concerto, rejuvenesço, revigoro.
Sobre teu corpo acústico, me aqueço, comemoro.
Teu tom é meu destino, recomeço. Eu te adoro!
Até o infinito, o amor, te forneço e te namoro.

(13-09-2007)

NIILISMO

(FÁBIO ALLEX)

O som que reluz é chama, e a voz reclama no silêncio da noite atroz.
Há uma fuga gritante nos seus passos, tentando evitar que aconteça, mas já aconteceu.
Com mil porquês vai querer se esconder de mim, negando a própria existência.
Mas, me afirmará em você.

Quando o infinito infundado circundar os lados, você vai sugerir encontrar a luz.
Porém, eu, contrariado; ficarei de olhos fechados.
Até por que é a escuridão que me seduz.
Só a escuridão me seduz.
(Nada mais que a escuridão me seduz).

O inaudito induz e declama; o que desmente proclama a profundidade que revela nossos corpos nus.
Há uma luta militante em nossos laços, tentando evitar que permaneça, mas já não tem fim.
E quando for querer se procurar em mim; talvez, algo que lhe pertença, vai achar você.

(21-04-2006)

NÃO-EU

(FÁBIO ALLEX)

Vou erigindo passatempos, sentimentos, devoção. Corrigindo outros momentos.
Nós-eu, vera-efígie ocasional. Não-eu... A loucura é tão normal.
Tudo tão virturreal.

Vão surgindo pensamentos, encantamentos-ilusão. Sorrindo dos sofrimentos.
Mas, não eu; vera-efígie de um boçal. Sim, eu; cem loucuras sem normal.
Patri e matrilateral.

Estão admitindo contentamentos, inventos-equação. Inibindo cegos atentos.
O não-eu é vera-efígie sem igual. Sempre eu e a loucura tão normal.
E às vezes muito formal.

Sejam bem-vindos aos argumentos, Ventos! ...Direção! Dividendo de mais ressentimentos.
Nunca eu, vera-efígie parcial. Tu e eu, nessa loucura tão normal.
Acima do bem e do mal.

Não-eu... Vera-efígie...

(08-07-2003)

MELADO JANEIRO

(FÁBIO ALLEX/POKÉMON)

Às vezes sinto o quanto um bem quer. Disfarça, o mito diz que não.
Comparo o lobo à mulher: desmesurado, insano de paixão.
Sufoco o grito que está em meu peito. Cala a boca, coração!
Falta de jeito, passo colorido. Teu corpo modulado por minhas mãos.

O que ficou p'ra trás, já não existe.
O gosto do beijo amargo, sempre persiste.
Passear na selva como o meu bem quer.
Debaixo da chuva, sou teu sexo, minha mulher.

Às vezes vingo-me o quanto puder. Imploro pelo infinito com devoção
Amparo-me como um tolo do que vier, sob fragmentos de ilusão.
Enfoco o atrito que está em meu leito. Onde me vejo tem perdão
Salta ao sujeito, o fracasso florido, e fica tatuado na canção.

O que sobrou, não satisfaz. Apenas agride.
O rosto, do desejo é dissociado, mas não se divide.
Passear na selva como o meu bem quer.
Debaixo da chuva, invocando toda fé.

(01-09-2005)

ELAS

(FÁBIO ALLEX)

Eu queria ser as cores da tua aquarela,
Os bastidores da tua novela,
O papel de parede da tua tela.
Ah, quem me dera ser Daniela!

Ser o itinerário da tua passarela.
Quando faltar luz, ser a tua vela.
Ser a comida quente da tua panela.
Morrerão de inveja se um dia eu for Gabriela!

Ser o altar da tua capela,
Todos os períodos da tua era,
Ser o espelho que te refletes tão bela.
Eu sou (mais) ela. Muito prazer, sou Mariela.

Ser o sorriso que na tua boca impera,
As horas e o fim da tua espera.
E receber os beijos que o teu amor libera.
Quem me dera ser eu mesmo, p’ra ser Rafaela!

Quem me dera ser eu mesmo, p'ra ser todas elas!

(29-07-2006)

É CONTIGO

(FÁBIO ALLEX)

São teus beijos que meus lábios necessitam, são teus carinhos que minha pele deseja.
São pelos teus olhos que quero ser visto.
É no teu pensamento que quero estar. É ao teu lado.
É o barulho do teu coração que meu peito quer ouvir.
São nos teus abraços que meu corpo quer se abrigar.
São nos teus cabelos que meus dedos precisam se perder.
É teu cheiro que meu pulmão quer armazenar. E já armazenou, mesmo antes de sentir.
É a melodia da tua voz que minha audição quer captar. Há muito, é o teu canto que ouço.
É contigo que quero andar de mãos dadas. É teu suor que quero enxugar na minha camisa.
É contigo que quero mergulhar na piscina, és tu que eu quero ver de biquíni.
É contigo que quero ir ao cinema, é contigo que quero ficar no escurinho.
É contigo que quero ir ao parque, andar de montanha-russa.
É contigo que quero ir ao teatro, à Lagoa, ao Reviver, aos shows de Ana Carolina, O Teatro Mágico, Engenheiros do Hawaii, Vander Lee... À feira.
À feira?! É! Qualquer lugar.
É contigo que quero ir ao zoológico “jogar pipoca aos macacos”.
Ah! Aqui não tem zoológico! Comemos somente nós dois, as pipocas. E dou-te na boquinha.
No carnaval, é contigo que quero me isolar do mundo. Só nós dois!
Tá bom, tá bom!
Se quiseres, podes chamar uma amiguinha quase-inseparável!
É p’ra ti que quero enviar e-mails, mensagem via celular, telefonar só p’ra perguntar como foi o dia.
É no teu orkut que quero deixar scraps, p’ra não esqueceres que não esqueço de ti.
É contigo que quero comentar sobre o último Programa do Jô.
É contigo que quero tomar banho de chuva, caso a tua sombrinha laranja não possa nos proteger.
Se bem que contigo, não é possível me sentir desprotegido.
Nem sentar no banco molhado da Nauro Machado, me importa.
É p’ra ti que quero cantar desde que tenhas paciência p’ra escutar um desafinado.
E de preferência, que cantes comigo. Que tal uma praia à noite, um lual a sós?
É p’ra ti que quero compor. Ainda vou fazer uma canção de amor, que não apenas exteriorize um devaneio. Quero nome e sobrenome.

Tu és o sentido!
É contigo que quero mergulhar na piscina, no rio, nadar.
É contigo que quero fazer nada, ficar em silêncio, só admirando o esmero dos teus detalhes.
É contigo que quero andar a cavalo.
É contigo que quero voltar a ser criança, falar churumelas. É contigo que quero tomar água-de-coco, refrigerante, suco de bacuri, comer churrasco, lasanha, creme de cupuaçu.
É contigo que quero fazer planos. Tu és meus planos!
É contigo que quero ter um casal de filhos, caso, eu não roube Brenninho da minha irmã.
É contigo que quero dividir segredos.
É contigo que quero relembrar na velhice, dos momentos que tivemos juntos, quando for falar de um grande amor.
Não quero que tu sejas a nostalgia do passado que parou no tempo.
Quero a tua presença a cada instante.
É contigo que quero viver.

(31-03-2007)

DILEMA

(FÁBIO ALLEX)

A última cartada, cartas, cartões postais.
Abaixo da crista, cristãos, cristais.
Cortes, cicatrizes, seqüelas.
Preto no branco, chuvas, aquarelas.
Uma escuridão, subterfúgio, lanterna.
No apartamento, um rosto-espião, da janela.
Atleta aposentado, poeta descomungado.
Maldito infernizando, meretriz agonizando.
Fé, fóssil, fósforo, fovismo, fatídico, fertilizado.
Ventre, vitrola, ventríloquo, virose, viola, violado.
Sangue que escorre do pus das entranhas.
Casa impregnada de visitas estranhas.
Uma cidade, um refúgio, uma timidez.
Descontrole, terremoto, solidez.
Porta-novas-aviões, porto que o parta, parto, aborto.
Abismo, abismado, absurdo, abstrato, abraço, absorto.
Um corpo ébrio num mar de ressaca.
Escassez de riso, arsenal de piadas.
Um canto, um conto, um soluço, nenhuma solução.
Enquanto isso...
Um dilema no esquema, queima uma opinião.

(11-04-2007)

CAOS SEM DONO

(FÁBIO ALLEX/NATO SILVA)

Acontece, nem tudo é dever.
A direita tem contramão.
Pisado num país sem leito.
Cadê respeito, emprego, opção?

Nesta desordem que você caiu,
Quem pariu? P’ra que abortar?
Deixa que a gente vai se fuzilar,
Caso não trocar, arma por pão.

Acontece, vender alma é prazer.
A esquerda é sem direção.
Aprender a escrever meu nome!
Tanta fome, medo, contradição.

Foi no congresso que se omitiu.
Quanto sumiu? Quem ’tava lá?
Deixa a enchente transbordar.
Se eu me afogar, é menos um.

(14-05-2007)