sábado, 2 de junho de 2007

ATÉ OUTRA CANÇÃO!

(FÁBIO ALLEX)

Chegou a hora de partir. Sei, tens que ir. Tchau! Até outra estação!
Sei que vais conseguir. Vou esperar por ti. Então: até outra canção!

Se a gaiola fica aberta, o passarinho voa e sempre sabe aonde quer chegar.
Nunca chega atrasado, não há caminho errado. A sua casa é o ar. Além-mar.

Chegou a hora de partir. Agora não dá p’ra sorrir.
Tchau! Levas contigo, o Maranhão.
Sei que vais conseguir. Vou orar por ti. Então: até outra oração!

Vais levar talento e plantar eternidade. O que tiver de ser, será.
Vais levar talento, mas deixarás saudades. Não esqueças de voltar à Ribamar.

Vou aguardar ‘‘Sementes’’ na televisão, os frutos. Tchau, até outro canal!
Suando o rosto, soando o violão... Sempre é recomeço, não há final. Tchau!
Até outra canção!

(13-10-2003)

BANHO DE FUMAÇA

(FÁBIO ALLEX)

Você demonstrou e eu senti. O que me falou, acreditei.
Valeu o meu verso? O que vi foi o inverso do que antes pareceu.
Tanto sentimento, do nada foi embora. O que faço com o meu agora?
Por favor! Ensina-me a jogar fora ou explique-me, pois de nada sei!

Eu, em sangue acorrentado. Pelo espinho, perfurado.
Florido jardim despetalado. Um grito em silêncio, sufocado.

Entretenimento?! Um beijo bom, aperto de mão por um amor.
Apesar da negação, no sorrateiro passado via presente no futuro.
Saio de vilão: pelo desabafo, pela dor do pranto, por não ser mudo.
Não me despeço, mas vejo um tchau sem acenar ao acordar sem adormecer.

Eu, em migalhas transformado. Perdi um jogo sem ter jogado.
O céu que vejo agora é nublado. O tempo atroz, estagnado.

(12-04-2005)

CEM CONCERTOS SEM CONSERTO

(FÁBIO ALLEX)

Uma conjuntura, uma tontura de acordar.
Passara a limpo a tempo p’ra não mais voltar.
Não sou perfeito, defeitos tenho. Busco melhorar.
Estou no limite, mas o apetite é devorar.
Pela correnteza, vou de remo no extremo mar.

Fiquei aprisionado no que aprisionei, quando:
O arcanjo incumbiu o anjo pra no seu banjo fazer um arranjo, que proferiu:
’’Essa tarefa, eu manjo!’’

Eu-lírico, eu-alvo, salvo pelo tiro. Sobre aquilo não entendi um quilo, mas ‘tou tranqüilo.
Entre pelo ventre, sugue o sangue do mamilo. Idade e vaidade ao lado do vampiro.
Por tantas mãos-longas, sem delongas. Seja bem-ido!

Entre pelo ventre, sugue o sangue do mamilo. Idade e vaidade ao lado do vampiro.
Por tantas mãos-longas, sem delongas. Seja bem-ido!

(05-05-2001)

COROLA-DOS-VENTOS

(FÁBIO ALLEX)

No jardim, procuro as flores que plantei, das mesmas flores que te dei.
Naquelas flores, eu sentia o teu perfume. Tempo em tempo, eu volto ao mesmo lugar,
Lugar que tu não mais estás. Volto p’ra tentar te reencontrar.
Tive vontade de partir também, o avião ensinou-me como fazer, mas vi o meu corpo no
Alto, como se outro. Sem paraquedas.

Sumiu do mapa, não tenho mapa, não tenho bússola.
Nem mesmo escala, nem Leste ou Oeste. Só mesmo a intuição.

Cadeiras de rodas e motocicletas. Gravatas, ternos e atletas.
Jardim-tesouro, ouro-estrume.
Quero o encanto mafuás atrás do muro, o puro vento, um grito certo, um sussurro.
E o jardineiro que tão pulha, pungiu-me.
Mesmo que peta, traiçoeiro, despetalado. Um perigo sem cuidado, o céu nublado.
Daquelas flores, nenhuma pétala. Só espinhos. Só espinhos.
Sumiu do mapa, não tenho mapa, não tenho bússola.
Nem mesmo escala, nem Leste ou Oeste. Só mesmo a intuição.
E às vezes não.

(09-11-1999)

DIVIDIDO

(FÁBIO ALLEX)

Quando você longe de mim, sinto-me definhado.
Quando você longe de mim, sinto-me em pedaços.
Quando você longe de mim, sinto-me meio cortado.
Quando você longe de mim, tudo fica nublado.

Quando não estou contigo, carrego uma ansiedade tão grande comigo!
Tudo fica ausente, tudo embaçado, não me sinto o mesmo, estou separado.

Dividido é como me sinto quando longe de você.
Mas quando estou contigo, a felicidade pousa e o tempo voa.
Eu fico mais forte, sinto-me seguro. Volto aos quinze anos, porém mais maduro.
Muito mais puro.

(03-12-1998)

FRAGRÂNCIAS

(FÁBIO ALLEX)

Não importa o fato de eu não mais presenciar as flores.
Sequer tem relevância não sentir mais as suas fragrâncias.
O que me interessa é lembrar dos odores que essas flores são capazes de proporcionar.
Para trás deixo amores, não guardo rancores.
Na minha tela escolho as cores com as quais vou pintar.
Reconheço os divisores, mas tenho outros valores.
E só os meus sensores é que podem me guiar.
Na minha boca, os sabores que agradam o meu degustar.
Na minha crença, os louvores a quem necessito ofertar.
O importante é discernir seus aromas e, se conveniente for, tê-los impregnados em mim.
E apenas no meu existencial, a dimensão de tudo que me vale.
E nem um grito ou silêncio impedirá que a minha voz se cale.

...Na memória, o perfume das flores do meu jardim...

(23-04-2007)

INDIAGNOSTICÁVEL

(FÁBIO ALLEX)

Cá a pensar estou, se estou pensando. Infinitivo ou gerúndio p’ra pensar melhor?
Não importa, eu sei. Tudo bem, o que me pedires farei. Irei ao longe até voltar.
Jogar-me-ei no céu, cairei no mar. Não sei voar, vou afogar-me. Mas não importa,
Nunca importou. Já estou morto, sepultado, decomposto aos bichos-terra.
Não existo, só resisto. Meu passado e futuro diluem-se no presente.
Histórias e contos por veias e artérias. Estou tão vivo, tão inocente,
Um tudo-nada, quase-demente. Às vezes lúcido, só p’ra relaxar, relembrar,
Alucinar. (Palavras macabras, verbos inúteis.)
Correndo, voando. Tudo importa, é importante, sempre importou.
A andar, a flutuar. Cinzas e rosas, pedras e pó, nuvens e chão, chuva-suor.
Aquele erro foi a opção mais certa que não pude escolher.
Por tantas vezes meu velório, por tantas vezes, eu nasci. Foi sempre assim.
Outras palavras, ramos de flores, ao encontro do acaso está bom p’ra mim.
Às vezes não, às vezes sim. Não foi bom, não foi ruim...
Por ventura encontrarei. O caminho, eu sei, é por ali.
O caminho, eu sei, é por ali. O caminho, eu sei, é por ali.
O caminho, eu sei, é por ali.

(01-07-2000)

ISCA

(FÁBIO ALLEX)

Quanto àquela canção, de nada adiantou, só um apreço pelo seu obrigado.
Eu perdi a rotação, o vento interceptou o arremesso do que foi computado.

Sou todos os meus passos, assumo o que faço.
Sou meu, e nem disfarço; sou o pescoço do seu laço.

Fui posto à leilão, a fé me reportou, enriqueço com o que me foi amputado.
Talvez, tudo invenção, o olhar se debruçou. Lhe forneço, meu corpo embriagado.

Sou a dor do seu cansaço, me resumo em compassos.
Sou nosso, quando em pedaços; sou o esboço dos seus traços.

Sou o derreter do aço, só consumo o meu espaço. Sou seu, quando quero abraço.
Sou a isca do que caço, sou o esforço do seu cangaço.

(03-01-2007)

QUEBRA-LARGADO

(FÁBIO ALLEX)

Há outra atmosfera, mesmos ideais.
Uma paixão eterna que preenche cada vez mais.
Outra cor, quem dera; esta já não satisfaz.
Uma porta da janela, vou correr atrás.

E vai dar pé... Luz aos pés!... O corpo inteiro.
Vai dar pé... Se Deus quiser!... O corpo inteiro.

Vou esperar a vela; ela, o barco; eu, o cais.
Daqui vejo outra terra com menos guerra e mais paz.
Destinos: o passo agora não erra; se tu viveres, verás.
Chega de virga-férrea. Mas, de qualquer jeito, sou alcatraz.

Inevitável dar pé, luz aos pés, ao corpo inteiro.
Vai dar pé... Se Deus quiser!... Ao corpo inteiro!

Tenho fé, dará pé. Vingará os pés. O corpo inteiro.
Dará pé... Se Deus quiser, o amor em primeiro.

De longe, só na paquera, com inveja dos castiçais.
Desenho aguardando aguarela e sons instrumentais.
Quem acusa de cegarrega, também fala demais.
A vida se cancela, a morte em banho de sais.

Mas, antes vai dar pé... Luz nos pés, no corpo inteiro.
Vai dar pé... Se Deus quiser, no corpo inteiro.

...Há uma razão... Maior do que qualquer explicação.

(10-09-2002)

VÍRGULA

(FÁBIO ALLEX)

Parece ontem, passado eterno, mas o tempo vai em velocidade.
Mesmos começos, outras histórias p’ra contar com criatividade.
Meu caminho seguirei e sei que encontrarei muita dificuldade.
Pois nada é fácil e não me importo, o que vale é a busca da liberdade.
As derrotas não me intimidam, sou convalescente dentro da periodicidade.

A musicalidade é a prioridade da durabilidade da vivacidade e da
continuidade da espontaneidade.

Tantas mentiras com os pés descalços. O portugal-velho esqueceu a honestidade.
Compelir a pausas, separações, coisa nenhuma, precisão e habilidade.
A contumácia da segunda mente insiste em ter voz e originalidade.
Ser astro-rei, um elenco; ora, pedra e pó. Isso é versatilidade.
Encontrei vaza-barris... Será outro sol? Quanta claridade!

(08-04-2003)