terça-feira, 27 de janeiro de 2009

POR ALGUMA RAZÃO

(FÁBIO ALLEX)
Para Cácia Samira

Sim, "tudo o que chega, chega sempre por alguma razão".
E tudo que aconchega me transporta p’ra tua direção.

É preciso se doar e ter fé, amar é disposição.
Mesmo que se ande a pé, a colheita é após a plantação.

Não necessitamos ser perfeitos, nós também somos fracos.
Nossas essências e virtudes saem do mesmo frasco.

Meu acalanto, é p’ra ti que eu canto; é por ti, meu pranto.
Outra valsa nem que seja ao som do vento. Nossos planos, nosso apartamento.

Nossas trocas de alianças, de amor, de perdão, de olhares.
Nada nos separa, paraíso. Estaremos, certamente, nos mesmos lugares.

É preciso consciência, esquecer vaidades, humildade alcançar.
Persistência, paixão e paciência. "Nossa sina é se ensinar".

Juntos somos melhores e a vida tem muito mais cor.
Nossos risos, muito mais graça. Somos a vontade, o que não se evitou.

Só tu me apascentaste de bom senso, de afagos, de perspicácia.
Oh, luz do alvorecer, itinerária, de peniel, luz das acácias!

(25-12-2008)

A CAMINHO DO ENCONTRO

(FÁBIO ALLEX)
Para Cácia Samira

Oh, Luz do Alvorecer, Luz Itinerária, Luz de Peniel, Luz das Acácias!
Só tu me apascentaste de bom senso, de fé, de afagos, de perspicácia.
Trouxeste a minha cura, minha saúde, meu remédio, minha farmácia.
Comprovaste-me que na vida é necessário obter persistência e audácia.
Que para amar e ser amado não precisa temer ou prender-se em falácia.
Tu, minha Paz, és tão imprescindível nos meus trajetos! Amo-te, Cácia!

(17-10-2008)

DEPOIS DO SOL SERÁ OUTRA ESTRELA

(FÁBIO ALLEX)

Bate o tambor, arrebenta. É hora de começar. Faz-me um favor, entenda!
Não volto antes de ver o boi-do-mar.
Sinta o calor, esquenta. Que não tem hora p’ra terminar.
É o amor que alimenta a chama acesa p’ro meu boi brilhar, p’ro meu boi brilhar.
Sacode a areia, esparzia, bumba p’ro meu boi bumbar.
Vai ser a noite inteira, só acaba depois que o dia clarear.
...A noite inteira...
Já está viva a fogueira, morrendo p’ro meu boi passar.
A paixão é verdadeira. Trouxe apito e maracá.
Sacode a areia, esparzia, bumba p’ro meu boi bumbar.
Vai ser noite de fervor, vai ser lenda p’ra esfriar.
...Noite de fervor...
Já vem meu boizinho dançando; com mais uma toada, o cantador.
Em Ribamar a festa é sagrada. A espera de Humberto, João Chiador.

(21-01-2005)

DORES E ODORES

(FÁBIO ALLEX/POKÉMON)

Sou o encarte do cd que não tocou; sou o restante do nada que sobrou;
Sou o fim que ainda quer continuar; sou o infinito.
Tu és a verdade que o poeta inventou; tu és o pensamento que nunca se pensou;
Tu és o arco sem flechas p’ra atirar; tu és o alvo.
Investidas de uma só vez. O cinema em cima do muro.
O vento é puro, sou redemoinho. Só vejo a ti, daqui onde estou.
Pediste p’ra eu ficar, mas eu já vou.
Somos partes de um dia que passou; somos frutos que a árvore não brotou;
Somos aves, apenas com uma asa p’ra voar.
Somos bando-sozinhos.
Investidas de uma só vez. O cinema em cima do muro.
O vento é puro, sou redemoinho. Só vejo a ti, daqui onde estou.
Pediste p’ra eu ficar, mas eu já vou.
Levando versos malditos, bebendo sonhos famintos.

(27-08-2004)

FISIOLOGIA II

(FÁBIO ALLEX)

Se sou galante, tu és minha cantada; Se sou chegada, tu és meu bem-vindo;
Se sou de outra, tu és minha peta; Se sou poeta, tu és meus sentimentos;
Se sou sexo, tu és minha volúpia; Se sou dúvida, tu és minha explicação;
Se sou músico, tu és minha Música; Se sou súplica, tu és meu desespero;
Se sou leitor, tu és minha biblioteca; Se sou asteca, tu és meu México;
Se sou circo, tu és meu palhaço; Se sou aço, tu és meu ferro e carbono;
Se sou olvido, tu és minha lembrança; Se sou dança, tu és minha dançarina;
Se sou gesto, tu és minha atitude; Se sou virtude, tu és meu hábito;
Se sou narina, tu és meu perfume; Se sou estrume, tu és meu jardim;
Se sou lamento, tu és minha dor; Se sou calor, tu és minha brisa;
Se sou esquina, tu és minha curva; Se sou luva, tu és minha mão;
Se sou boca, tu és meu hálito; Se sou rápido, tu és minha pressa;
Se sou velho, tu és meu asilo; Se sou teu tio, tu és meu incesto;
Se sou cego, tu és meu tato; Se sou abstrato, tu és meu nexo;
Se sou oração, tu és minha fé; Se sou pele, tu és meu carinho;
Se sou noite, tu és minha lua; Se sou rua, tu és minha hippie;
Se sou corpo, tu és pão e vinho; Se sou passarinho, tu não és minha gaiola;
Se sou gripe, tu és meu ácido ascórbico; Se sou alcoólico, tu és meu líquido;
Se sou louco, tu és minha camisa-de-força; Se sou louça, tu és meu detergente;
Se sou alegre, é por que tu estás contente; Se sou vidente, tu és minha profecia;
Se sou esforço, tu és minha recompensa; Se sou o que pensas, então me conheces;
Se sou números, tu és minha soma exata; Se sou gravata, tu és minha solenidade;
Se sou herói, tu és minha revolução; Se sou canção, tu és minha melodia;
Se sou dia, tu és minhas vinte e quatro horas.

(16-09-2003)

ÍMPAR E PAR

(FÁBIO ALLEX)

Este sou eu, de novo cantando. Este sou eu, sorrindo e chorando,
Atrás da chance que tão bem sabe se esconder.
Este sou eu, firme e forte. Este sou eu, que vive na morte,
Que ressuscita todo fim de mês.
Este sou eu, sem paz e feliz. Este sou eu, fazendo o que quis,
Embora nade contra a correnteza.
Este sou eu, que tão singular. Este sou eu, com sorte e azar,
Que não simula perfeição.
Este sou eu, que não guarda rancor. Este sou eu, que paquera o amor,
Um nobre plebeu, poeta-leigo.
Este sou eu, que tem um cachorro. Este sou eu, que não omite socorro.
Carlos Drummond é quem tem razão.
Este sou eu, das palavras e gestos. Este sou eu, com identidade e chinelos,
Que odeia fumaça de cigarro.
Este sou eu, claro na escuridão. Este sou eu, com uma lâmpada em cada mão,
Sempre com os sentimentos elevados.
Este sou eu, bandido e herói. Este sou eu, que constrói e destrói,
Olhos teimosos, favela-baluarte.

(10-11-1999)

MOMENTOS DE EU-SOU

(FÁBIO ALLEX)

Sou destino sem chegada, um jogo de azar, o dilema.
Sou poltrona desocupada ao meu lado, na sala de cinema.
Sou a espera contando sóis e luas, pelo seu telefonema.
Sou Tom Jobim sem óculos, piano e Garota de Ipanema.
Sou a luta fracassada, mas sem jamais abandonar o lema.
Sou questão solucionada; você, o fim do meu problema.

(21-03-2007)

PASSADO ETERNO

(FÁBIO ALLEX)

Trago na mochila, roupas molhadas do mar de Ribamar.
Trago o meu passado intensivo, esquecido e
Lembrado ao voltar e retornar.
Rostos tão antigos ficaram tão novos por nunca mais olhar.
E quanto a ela que mal lembrava, peguei-me pensando no jantar. Tudo de novo...

Ela mexeu comigo, sei que eu com ela também.
Ela mexeu comigo, mas não digo a ninguém.

O que perdi, encontrei. O que esqueci, lembrei. Falo dela.
O que deixei, busquei. O que não mais sentia, senti. Falo de amor.
O que não via, olhei. Mesma pessoa, não sei. Só a vejo.

Vamos recomeçar! Vamos recomeçar, meu Amor!
Vamos recomeçar! Vamos recomeçar, por favor!

Ela mexeu comigo, e sequer me tocou.
Ela olhou p’ra mim, e tudo aquilo voltou.
Ela mexeu comigo, como os trilhos sob o trem.

O que vivi com ela, eu não vivi com ninguém.
O que perdi, encontrei. O que esqueci, lembrei. Falo dela.
O que deixei, busquei. O que não mais sentia, senti. Falo de amor.
O que não via, olhei. Mesma pessoa, não sei. Só a vejo.

Vamos recomeçar! Vamos recomeçar e deixar a dor!
Vamos recomeçar! Vamos recomeçar o que nunca acabou!

(26-12-1998)

RAZÃO PASSIONAL

(FÁBIO ALLEX/JÚNIOR MUNIZ)

Eu não me arrependo de nada que fiz, foi tudo pensado, eu sei, deu errado,
mas tentei o que quis.
Tenho tanto a dizer, porém não sei por onde começar. Talvez do começo.
São tantas as idéias, nelas, às vezes chego a tropeçar. Caio e levanto.
Todo o feito foi oriundo de filantropia.
Do exórdio a conclusão, tive sempre os pés no chão.
Nem tudo é como a gente quer.
Não se deixe promiscuir com o que é inteiro e metade.
O grande lance é tentar, contudo se não conseguir, levante a cabeça.
Eu não preciso que me digam como é, deixe-me remar e jogar a âncora quando quiser ou puder.
Grandes e novos horizontes estão sempre a surgir. Tome uma vereda.
Tudo que fiz foi por prazer, talvez um dia vá me arrepender, apenas sigo em frente.

(15-05-1999)

RITMO E SOLFEJO

(FÁBIO ALLEX)

O não-esperado, esperei. Mas, nada saiu como pensei.
Tanta loucura em uma bela pintura. Cultura e água pura nunca são demais.
O que foi pensado, despensei. É que tudo passa e eu cansei.
Uma dose da cura p’ra esta pobre criatura!
Armadura obscura em meu pentagrama, é o que satisfaz.

Se você quiser aprender a conviver com o sim e não,
Peça a minha ajuda e dou-lhe a mão.
Se você quiser mudar a lição, vamos estudar uma solução.
Se você fizer uma canção... Mesma melodia, nova modulação.

O pinga-fogo, pouco fez em dez reinados de mil reis.
Cadê o ato de bravura? Não vai enfrentar a ditadura?
Há de ser dura sem perder a ternura jamais.
O estilo barroco, louco ficou de vez, por jogar damas com regras de xadrez.
Sem partitura é muita aventura!
Só lembro que a ligadura não foi da mesma altura de outros musicais.

Se você quiser aprender a conviver com o sim e o não, tudo vale a pena, nada é em vão.
Se você quiser, uma condição: terá que me encontrar em meio a multidão.
Se você tiver combustão... Há vários, inúmeros caminhos em uma direção.

Qual a nota, não importa; a todo o momento, anacruse e contratempo.
Se perco o compasso, nem disfarço. Vou entoando; acentos mudando.

(06-09-2003)