COPA DO MUNDO: ONDE OS HERÓIS CALÇAM CHUTEIRAS
POR FÁBIO ALLEX
Estagnado. Assim fica o Brasil, mesmo em dia de semana, durante o maior evento esportivo do Planeta: a Copa do Mundo. Basta a seleção canarinho ir a campo para aglomerar, por todos os cantos, milhares de cidadãos, sejam ricos, pobres, negros, brancos, de esquerda, de direita, homens, mulheres, jovens, idosos.
Os limites diminuem. As praças, ruas, avenidas e bares ficam repletos de verde e amarelo através do povo e pelos outdoors das multinacionais que se vestem com o fulgor do patriotismo. A explicação: o futebol, a máquina de produzir dólares para poucos e felicidade para povos. E este é o momento para excluídos da sociedade, caso tenham sua seleção classificada para a competição, perceberem que fazem parte de um contexto universal e são cidadãos e, antes de qualquer coisa, seres humanos. É a oportunidade existente para o terceiro mundo estar em nível de igualdade com as grandes potências. É tempo de união. Abraçar sem conhecer passa a ser um ritual, e desejar sorte ao outro é como desejar a si. “Boa Copa, meu irmão”, dizem repletos de fé, os amantes do futebol.
OS HERÓIS
No Brasil, sobretudo, o apreço pelo País exala no peito de cada um, onde o asfalto parece refletir os concretos da cidade. São as cores da bandeira prevalecendo e arrebatando corações impregnados de nacionalismo. E orgulhosamente apresentamos os nossos maiores heróis: Oscar Niemeyer, Santos Dumont, Tiradentes, Monteiro Lobato, Herbert de Souza, Chico Xavier? Não, absolutamente! O que esses intelectuais têm a ver com futebol? Os heróis tupiniquins calçam chuteiras, como Pelé, Garrincha, Rivelino, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká. São eles, dignos o suficiente a fim de eternizarem-se no âmago da história.
FIFA 207 x ONU 191
A Federação Internacional de Futebol (FIFA), a maior entidade desse esporte, possui 207 membros, 16 a mais em relação às Nações Unidas (ONU). Lamentavelmente, uma organização esportiva recebe mais importância que as necessidades humanas. Um absurdo, não existir competição, ainda que de 4 em 4 anos, para melhorar as taxas de natalidade ou de ingresso à educação. De fato, um placar desfavorável! O futebol vence a plebe de goleada.
Todavia, a discrepância vigente é que a invocação global pelo futebol remete a milhões de espectadores, de onde grandes corporações como Nike, Adidas, McDonald's, Budweiser retiram seu faturamento, mesmo vigorando incompatibilidades partidárias, financeiras e sociais.
A Copa do Mundo é o alicerce de tudo e ajuda a camuflar as desigualdades. Independente de reflexões, que às vezes cansam, vamos torcer, fazer figa e gritar até a rouquidão falar mais alto: P’RA FRENTE, BRASIL! E se a seleção brasileira fizer a sua parte, trazendo o hexacampeonato; nós prometemos fazer a nossa, fingindo estar tudo bem e ser, verdadeiramente, felizes.
(junho de 2010)
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ALAGOAS E PERNAMBUCO: DA CHUVA AO CAOS
POR FÁBIO ALLEX
“Chegou a tempestade devastando o lugar. E quem viu desesperou-se e começou a chorar. O frio queimando as plantas, castigando animais. A fome era o que mais assolava, matando bons e maus em uma só tacada”.
A vida imita a arte? Para o escritor irlandês, Oscar Wilde, a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida. Em todo caso, essa reflexão pode esperar. O que não pode esperar é o bem-estar e as necessidades do ser humano.
A vida imita a arte? Para o escritor irlandês, Oscar Wilde, a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida. Em todo caso, essa reflexão pode esperar. O que não pode esperar é o bem-estar e as necessidades do ser humano.
Palmares (AL) Barreiros (PE)
De qualquer forma, entretanto, a letra da música ‘Tempestade’, da banda Maskavo, faz um recorte atual e frequente do cenário brasileiro.
Entra ano, sai ano, e as enchentes originadas por chuvas torrenciais não dão trégua, e catástrofes afogam vários estados do país. Seja São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Maranhão, as águas que jorram do céu não escolhem endereço. As vítimas mais recentes das procelas foram Pernambuco e Alagoas, que no mês de junho, de acordo com os principais noticiários, tiveram cerca de 40 mortos e 100 mil desabrigados ou desalojados, além do número de desaparecidos que ultrapassa 1,5 mil.
A CULPA É DE QUEM?
E a culpa por essas tragédias é de quem? Seriam os fenômenos da natureza ou a falta de políticas públicas que não criam mecanismos de prevenção a partir de estudos meteorológicos e atuais condições dos rios? Além disso, a falta de padrões para uso dos mananciais é recorrente e nada contra maré.
Presidente Luís Inácio Lula da Silva
O governo anunciou mobilização de todos os recursos federais dos Ministérios da Defesa, do Exército e da Integração. Ademais, garantiu que não faltarão verbas para suprir as necessidades dos dois Estados atingidos. Em vez desses gastos emergenciais, seria plausível, sensato e, sobretudo, um ato de responsabilidade, investir em saneamento básico a fim de evitar que detritos sejam jogados nos rios, e assim, por sua vez, impedir o assoreamento deles.
Já, a conscientização está submersa nas profundezas da escassez, pois não se vê um programa de educação ambiental e fiscalizações rígidas para conter abusos e despautérios, tampouco a desocupação de áreas proibidas e de risco sem acarretar prejuízos à população.
Enquanto o sol não traz alívio imediato, salve-se quem puder, pois viver não é preciso, mas nadar, sim, é extremamente necessário.
(julho de 2010)
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