quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O PREÇO DE FESTAS NATALINAS E O APREÇO PELO ESPÍRITO DE NATAL

POR FÁBIO ALLEX

Em qual data nasceu Jesus Cristo? Sobre esse episódio, a Bíblia não tem nada a declarar. Entretanto, o dia escolhido pelos homens para celebrar sua chegada ao mundo divide interesses. De um lado, o apreço por um dia sagrado, um templo novo, um divisor de águas entre a humanidade e união entre os seres; de outro, vale mais o preço impagável para encomiar nossas vaidades egoístas e um tempo profícuo para comercialização e materialismo.

E para você, o que significa este período? Qual a função do espírito natalino? Por si só, o 25 de dezembro (deveria) fomenta (r) reflexão acerca da sua real representatividade, além da hipnose feita pelo comércio, obrigando-nos a consumir como marionetes do capitalismo.
 
O mito do Pére Noel, aliás, Papai Natal, ou melhor, Noel (já que este significa Natal em francês), férias, 13º salário; presentes, viagens, banquetes. Tudo é propício, e, assim, para as empresas torna-se um prato cheio investir em publicidade, pois o retorno vem em dólares, com juros e correção monetária.

Ademais, nesta época é comum entre nós mortais, vestirmos o manto da religiosidade, ficarmos mais apaziguadores (pelo menos aparentemente), clamar, com o peito estufado de suposta fé, o santo nome de Cristo e desejarmos uns aos outros, os tradicionais “Feliz Natal” e “Boas Festas”.

Há até quem seja tocado pelo ensejo para pedir perdão a quem se magoou após um ano inteiro de silêncio. Tudo bem, antes tarde do que nunca. Mas que tal tentarmos ser mais complacentes de janeiro a janeiro e nos despirmos de todo orgulho, queimando as vestes pedantes que assolam a nossa alma? Vale a pena querer ser mais a partir do réveillon até novembro e deixar sobrar apenas o último mês do ano para tentar ser melhor? Ou, porventura, seria uma estratégia para conter gastos? Afinal, o comércio aproveita-se do mês em que estamos mais amáveis, cordatos e dispostos a esquecer desavenças e dar presentes, para impulsionar as ofertas e persuadir o consumidor. É, se fossemos bonzinhos o ano todo, o gasto, quiçá seria maior.


É óbvio, contudo, que ganhar e dar presentes, comer e vestir-se bem, viajar e investir em si nos revigora, pois aproveitar o que há de melhor na vida é o próprio motivo para vivermos. É lógico que merecemos espairecer e gastar o dinheiro suado após um longo ano de trabalho. Todavia, melhor ainda é fazer tudo isso, compreendendo o verdadeiro significado do Natal e praticá-lo todos os dias, ignorando o calendário e não esperar dezembro. Que o nosso consumismo seja também, predominantemente, por AMOR.







sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

TERMINAIS DE INTEGRAÇÃO DE SÃO LUÍS E A DESORDEM DIÁRIA

Ao tentar embarcar nos ônibus, o dia a dia da população ludovicense é marcado por tumulto nas filas dos terminais.

POR FÁBIO ALLEX


“[...] Nessa selva, a gente se acostuma a muito pouco. A gente fica achando que é normal entrar na fila, comprar ingresso p’ra levar porrada [...]”. A canção ‘No Meio de Tudo, Você’, da engenharia hawaiana do gaúcho Humberto Gessinger, pode ser bem aplicada no cotidiano do povo sem carro próprio, da Ilha do Odor, aliás, do Amor. Mas devo lembrar também a obra ‘Cidade em Chamas’, do mesmo compositor: “[...] As chances estão contra nós, mas nós estamos por aí a fim de sobreviver. No meio da confusão, andando sem direção a fim de sobreviver [...]”.

Pois é, a arte imita a vida e vice-versa. E neste recorte da vida urbana, enveredamos por uma intensa e fatigante aventura. Quase um exercício de sobrevivência conduzido pela lei do mais forte. É assim, a rotina de quem depende dos ônibus lotados nos Terminais Integrados de São Luís, onde intensos transtornos e incômodos são os principais passageiros.

O descontentamento da população gira em torno do alvoroço desencadeado pela desorganização das filas e do atendimento lento, ineficaz ou submisso dos funcionários. O caos é gerado, sobretudo por que muitas pessoas não respeitam a vez de quem está na frente, e para poder adentrar o ônibus, "furam" fila, empurram. 

TÍPICO DE CARNAVAL
A cena remete ao Marafolia: multidão, pouco espaço; carnaval fora de época, porém sem diversão. É que passou a existir, inclusive, uma cultura, quase uma religião dotada de fanatismo, caracterizada por filas paralelas à fila formada entre os corrimãos fincados nas plataformas. No fim das contas, isso tudo vira um grande amontoado de gente.

Embarque no Terminal da Cohab

Mesmo em horários de fluxo menor, aqueles que pleiteiam um metro quadrado nos coletivos ou um assento, se a sorte estiver a favor, não sabem aguardar a vez. Eles querem ultrapassar quem está à frente a todo custo, doa a quem doer. E salve-se quem puder, pois ninguém será poupado. Sejam idosos, mulheres com criança de colo, gestantes, deficientes físicos.

Os passageiros que vão embarcar, sequer esperam descer quem está chegando de uma demorada e cansativa viagem. E os agentes de plataforma, o que fazem? Nada. Quiçá, queiram evitar a fadiga. Enquanto isso, na sala de justiça, a ordem sai pela culatra.

AGENTES DE PLATAFORMA

A comum falta de compromisso desses... Profissionais?, nos cinco Terminais (Praia Grande, Distrito Industrial, Cohab/Cohatrac, São Cristóvão e Cohama/Vinhais) é muito fácil de perceber. Além de serem poucos, eles ficam ao léu, absortos, distraídos, contemplando o além do infinito e evadem-se no meio dos incontáveis passageiros ou preenchem o tempo conversando entre si. Os agentes não interferem em quase nada, a não ser que tenham super poderes e fiquem invisíveis e, por isso, não sejam notados.

Quaisquer informações como itinerário e plataforma dos coletivos, na maioria das vezes se obtém por intermédio de um simples mortal, como algum usuário. “As pessoas não respeitam as filas, e sem os funcionários para organizar fica bem mais difícil. Antes era bom, mas parece que se acomodaram com a garantia do emprego. Além de não organizarem as filas, eles fornecem as informações de má vontade. O povo também é acomodado, pois não reivindica seus próprios direitos”, reclamou o universitário Geylson Fernandes, 22. “O [Terminal] da Cohama, apesar dos pesares, até que é bom. Têm outros em situações bem piores, declarou a cobradora Ana Patrícia, 31.
 
O ajudante de pedreiro, Francelmo Costa Veloso, 34, morador de Panaquatira, enumerou as principais dificuldades encontradas em sua rotina. “Lá, [em Panaquatira] só tem um ônibus que passa de duas em duas horas, então essa é a maior dificuldade. [Os agentes] são muito incompetentes, porque a todo o momento nós precisamos deles, mas fogem da prestação de serviço. Quando a gente quer informação, não tem ninguém pra orientar. Tem plataforma que é a mesma pra embarque e desembarque, então cria tumulto”, disse ele.

Terminal de Integração da Cohama

Terminal da Cohama

Vale destacar que nem tudo parece perdido, pois o Terminal da Cohama tem recebido visitas mais frequentes desses funcionários. Ultimamente, as plataformas vermelhinhas estão sendo habitadas pela rapaziada da prancheta, mesmo não sendo durante todo o expediente. De qualquer forma, já é um começo, né? De repente, eles se acostumam e a moda, por conseguinte, até seja seguida. Vale a torcida!

Segundo Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT), os cinco Terminais de Integração contam com cerca de 600 servidores, distribuídos em quatro turnos de revezamento. Cada turno trabalha com 30 funcionários que desempenham as funções de orientadores de plataforma, auxiliar de serviços gerais, coordenação e administração.

NERVOS À FLOR DA PELE
Quem já viu alguma confusão mais enérgica em algum dos Terminais, ou aos redores, como agressões físicas e até morte? Um dos casos foi o assassinato de Luís Carlos Ferreira, 28, na noite de 20 de setembro deste ano.

José Carlos Augusto Silva, ferido durante confusão no Terrminal Cohab

Na manhã do dia 3 de outubro, data que credenciou a continuidade de Roseana Sarney a frente do governo do Estado, o pedreiro José Carlos Augusto Silva, 34, após desentender-se com a esposa, recebeu intervenção de guardas municipais, os mesmos incumbidos de garantir a segurança do local, e um deles, o guarda Ubiratan, teria demonstrado despreparo para lidar com eventos como a do dia das Eleições. “O guarda se aproximou e perguntou o que tava acontecendo, e a minha mulher disse que queria ir pra casa. Ele só perguntou isso e veio em minha direção pra me bater, me agredindo com chute e batendo com a minha cabeça no ferro [do corrimão, onde as filas devem ser formadas]. Eu não tive nem reação”, contou.

Mulher de José Carlos abraça-o para protegê-lo de guardas

Guardas Magno e Ubiratan 

Para o delegado do Plantão do Cohatrac, Almir Macedo, que recebeu a vítima, testemunhas e o suposto agressor para registro de ocorrência, os guardas municipais, responsáveis por manterem a ordem nos Terminais Integrados, são despreparados para conduzir incidentes de rotina e não deveriam intervir em situações como desentendimento de casais, por exemplo. Para ele, a intervenção deve ser feita apenas quando apresentar gravidade. “Eles se colocam na condição de autoridades e adotam procedimentos inadequados para o cargo que ocupam. Eu já até falei com o secretário municipal de Segurança, Luiz Carlos [Magalhães], conversei com ele, sou amigo dele: rapaz, orienta o pessoal, que está tendo problema, de vez em quando, dessa natureza”, relatou parte da conversa com o secretário da Semusc.

O delegado ainda mencionou outro ato, em que ele considera um equívoco por parte da guarda municipal. “Outro dia teve um problema sério lá [no terminal Cohab/Cohatrac]. Um cara que tava com uma garrafa de bebida. Prenderam o cara, algemaram o cara, trouxeram pra cá [para a delegacia do Cohatrac]. Desnecessário! Basta pegar a garrafa dele, jogar no lixo”, explicou.

PENDURADOS NOS ÔNIBUS
Segue a odisseia. Outra rotina nos terminais é protagonizada por passageiros que se sujeitam a ir pendurados nas portas dos ônibus.
A pressa para poder cumprir horários leva-os ao desconforto e ao perigo. E esses percalços, certamente, não são resultados apenas da desorganização nas filas, mas também da quantidade de ônibus que não atende a demanda.

Embarque no Terminal da Praia Grande


Terminal do São Cristóvão
No entanto, a SMTT comunicou por e-mail que o transporte coletivo de São Luís teve aumento de 20% em 2009, correspondendo à colocação de aproximadamente 150 novos ônibus em circulação. Ainda de acordo com a Secretaria, estes veículos estão regularizados conforme as normas da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP), tendo 24% dos coletivos operantes adaptados para portadores de deficiência física - a Lei Municipal da Acessibilidade determina que sejam 15% -, isto é, com elevadores e espaço reservado para cadeirantes, carros mais longos com 16 metros de comprimento e três portas de 1,30.

A SMTT informou também que a capital maranhense disponibiliza uma frota de 1.011 ônibus para atender diariamente cerca de 550.000 usuários. Já o montante de carros é de 230.482 unidades. Nas contas do Órgão, 179 ônibus ainda vão ser inseridos no sistema até o fim deste ano.
Outro dado importante vem do Censo 2010 que divulgou precisamente, uma população de 1.011.943 em São Luís. Já pensou se ninguém tivesse carro próprio?

Espera de coletivo no Terminal do Distrito

Usuários aguardando ônibus no Terminal do Distrito

Terminal do Distrito Industrial: longa espera

INFRAESTRUTURA

A infraestrutura também é uma preocupação compartilhada. Os bebedouros, em estado crítico, envolvidos pela ferrugem, não recebem manutenção, e alguns mal funcionam. No Terminal da Cohab, já não existe mais. Existem telhados danificados; lixeiras quebradas; e o lixo, às vezes, espalhado.

Bebedouro do Terminal da Praia Grande

Além disso, a higiene no mangue, aliás, nos banheiros também não se salva, é desumana. As condições deploráveis apresentam ambientes imundos com odor insuportável, falta de água (e de torneira) e um chão que, vez ou outra, pode ser facilmente confundido com um lamaceiro.

Banheiro masculino do Terminal da Praia Grande

      Banheiro masculino provisório do Terminal da Praia Grande

Banheiro do Terminal da Praia Grande: sem água (e sem torneira)

Privada sem privacidade: Terminal da Praia Grande

Banheiro feminino do Terminal da Praia Grande

Banheiro do Terminal do Distrito

Banheiro para deficientes físicos do Terminal do Distrito

Banheiro masculino do Terminal do São Cristóvão

Banheiro masculino do Terminal do São Cristóvão

Banheiro provisório para homens no Terminal da Cohab

Banheiro do Terminal da Cohab

 Banheiro do Terminal da Cohama

Banheiro masculino (com portas nos lugares) do Terminal da Cohama

Torneiras (com água) e detergente: banheiro do Terminal da Cohama

Sem contar com os períodos de chuva que deixam uma parte considerável dos terminais, alagada. E como se já não bastasse toda aglomeração de usuários, as feiras, aliás, os Terminais são repletos de vendedores ambulantes que distribuem suas mercadorias pelo local, e dificultam a locomoção dos passageiros.

REFORMA DOS TERMINAIS

Em resposta, a SMTT diz que a equipe de gestão dos Terminais está desenvolvendo um programa de qualidade para melhorar o atendimento e o serviço de informação ao usuário. E com as reformas de todos os terminais, previstas para serem realizadas ainda em 2010, os passageiros deverão contar com ambientes mais confortáveis e seguros.

Quem, nem de longe, consegue perceber essa qualidade, que vai de mal a pior, é a população, sempre obrigada a enfrentar um aglomerado de pessoas para embarcar e desembarcar dos ônibus. Além disso, tem que pagar uma passagem cara para a realidade ludovicense. Enquanto isso, entre pisões e empurrões, a população sobrevive aguardando na fila ou fora dela.

SAIBA MAIS

terça-feira, 30 de novembro de 2010

VESTIDO CETIM

(FÁBIO ALLEX)

 

Meu vestido cetim, eu comprei pensando em ti.
Mas não foi sequer percebido. Talvez tu sejas distraído.
Meu batom nem gastei. Guardei minha boca e milhões beijos.
Por que mudaste o começo? Às vezes, mal te reconheço.

Traga flores p’ra mim e não se esqueça de vir com elas.
Não estarei sempre aqui. A vida é breve e um dia se cancela.

Ser mãe do teu filho, florescer na tua alegria.
São retratos de antigamente. Uma voz rouca que silencia.
Ser teu pão e teu vinho, rejuvenescer nos teus dias.
São retalhos já ausentes. Pele lisa e a mão não acaricia.

Traga flores p’ra mim e não se esqueça de vir com elas.
Não estarei sempre aqui. Tempo é ouro. Cedo ou tarde se revela.


Faces caem em desengano.
Margens fogem do fulgor.
O calendário ignora os anos.
Por que tantas cartas de amor?

Traga flores p’ra mim e não se esqueça de vir com elas.
Não estarei sempre aqui. A vida é breve e um dia se cancela.
(Tempo é ouro. Cedo ou tarde se revela).

A vida se cancela.
Cedo ou tarde se revela.

(24 -10-2010)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

CRIANÇA DEVE TRABALHAR?


80% das crianças e adolescentes de São Luís, trabalham em busca da sobrevivência.

POR FÁBIO ALLEX

 “Criança não trabalha, criança dá trabalho”. O refrão da música de Arnaldo Antunes e Paulo Tatit, por enquanto é apenas melodia, poesia, utopia, e pelo que se vê nesse caso, a vida está longe de imitar a arte. No país inteiro, criança trabalha sim, e muito! De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2008, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 993 mil pessoas com até 13 anos estavam trabalhando no Brasil. Na região nordeste, em 2009, a PNAD apontou que 123 mil trabalhadores eram crianças de 5 a 9 anos de idade, enquanto 785 mil tinham de 10 a 13 anos e 3,3 milhões, de 14 a 17 anos. A taxa de escolarização nesse grupo foi de 82,4%.

Em São Luís - MA, a realidade também não é brincadeira. 80% das crianças e adolescentes estão nas ruas em busca de sua sobrevivência, conforme levantamento feito pelo Observatório Criança em 2004. Só em 2008, foram identificados pela Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (SEMCAS), 277 menores trabalhando nas ruas da chamada ‘Ilha do Amor’. Já a pesquisa encomendada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Luís (CMDCA) ao Observatório Criança, em 2003, cerca de 500 crianças e adolescentes foram registradas vivenciando situação de rua na capital maranhense.

Aonde se vai, encontram-se crianças nessa situação. Sejam vendendo doces nos coletivos, engraxando sapatos nas praças, vigiando carros nos estacionamentos, limpado parabrisas nos semáforos, vendendo verdura nas feiras. Educadores sociais do Busca Ativa e do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) classificaram os principais focos onde há maior concentração desses meninos que fazem papel de adulto e trabalham feito gente grande.

ALVOS DA GAROTADA
As feiras e mercados são os alvos principais da garotada, onde foram contadas 110. Em seguida, aparece a faixa litorânea das praias com 86 e na Ceasa, 81. Dados, entretanto, divulgaram um pequeno decréscimo. Entre julho e agosto de 2009, aproximadamente 230 crianças e adolescentes foram percebidas em situação de rua. Anjo da Guarda, Centro, São Francisco e Cohab são os bairros onde elas podem ser encontradas com mais facilidade.

Roseli de Oliveira Ramos

Para a pedagoga e secretária do SEMCAS, Roseli de Oliveira Ramos, as medidas e estratégias para a abolição do trabalho infantil estão sendo tomadas com periodicidade semanal. “Temos 11 Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) distribuídos nas periferias, zona rural e centro. Toda semana, um coordenador educacional vai aos locais de maior demanda de trabalho infantil, conversa com a criança, dispõe-se a conhecer a família e convencê-la de que o trabalho é inapropriado para a formação do menor”, disse Roseli.

Mesmo com o engajamento em dar um basta, ela contou sobre a dificuldade existente para conseguir livrar as crianças e adolescentes dessa condição. “Você não pode obrigar ninguém, e sim, subsidiar. Muitas, depois de afastadas das ruas, retornam, pois elas e as próprias famílias são vítimas do processo histórico de desigualdade. Em consequência disso, os pais acabam induzindo seus filhos ao trabalho a fim de auxiliar no sustento da casa. E o que prevalecem são as velhas máximas: ‘Deus ajuda quem cedo madruga’, ‘melhor trabalhar do que roubar’”, falou Roseli.

 

COMO MANTER CRIANÇAS AFASTADAS DO TRABALHO
O SEMCAS conta com 70 pólos que funcionam como uma espécie de extensão escolar, onde o jovem tem oportunidade de ter contato com cultura, esporte e lazer. Segundo Roseli, para que a criança tenha acesso, a família precisa colaborar e incentivá-la a ir. Cerca de 500 crianças são atendidas na cidade. A secretária afirmou ainda que em breve, algumas estratégias serão implantadas, como a criação de cursos profissionalizantes para capacitação das famílias a fim de inseri-las no mercado de trabalho, de modo que elas não dependam mais da ajuda dos filhos.

PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL
Para Roseli, o trabalho doméstico e a exploração sexual são as piores ameaças para a formação da criança. “Imagine, uma criança cuidando de outra criança, fazendo comida, tendo contato com facas e outros utensílios domésticos, em vez de estudar e brincar. Já a jovem explorada sexualmente, sente-se ‘glamurosa‘ por ser desejada e receber presentes e dinheiro em troca do seu corpo, sem se dá conta que futuramente isso será um trauma irreversível”, afirmou.

OFICINA EDUCATIVA
Em agosto de 2009, a Faculdade São Luís coordenou uma oficina educativa com o tema ‘Combate ao Trabalho Infantil Doméstico. Na oportunidade foi debatida a Lei estadual nº 8.816/2008 que pune com advertência até a perda do cargo, funcionários públicos que contratam menores para o trabalho no lar. Além disso, o SEMCAS disponibiliza quatro Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), focados nas vítimas domésticas e nos abusos de exploração sexual infantil.

Roseli Ramos acredita que não há trabalho que seja benéfico para a criança e que todas as etapas devem ser respeitadas. “Os estágios com acompanhamento educacional são as melhores opções, e isso as escolas já fazem com boa desenvoltura. Assim, o jovem pode, gradativamente, ser capacitado para, no momento certo, ter uma profissão. Enquanto, o momento não chega, a criança tem que ir para a escola, fazer dever de casa, brincar, e os únicos trabalhos devem ser arrumar a cama e guardar os brinquedos após usá-los”, garantiu.








quinta-feira, 30 de setembro de 2010

UM DIA SEM CARRO DURANTE O ANO TODO

(FÁBIO ALLEX)
Para o Jornal Pequeno

Quando se fala em melhor amigo do homem, é praticamente consenso em dar ao cão esse título honroso, retribuído com olhar terno e balançar de cauda. Muito mais que crença popular, o cachorro nosso de cada dia é companheiro há cerca de 14 mil anos, de acordo com pesquisadores alemães, da Universidade de Tübingen.

Porém, nos tempos modernos, o animal mais domesticado está perdendo o posto para um bem durável, o carro nosso de cada via.
O automóvel, um alvo de cobiça e apreço, é quase parte integrante do corpo ou um membro da família. Quanto mais confortável, possante e veloz, melhor.

Os homens, de modo geral, costumam ser especialistas nesse assunto, e para a satisfação plena, não basta contemplá-lo, é preciso apelidá-lo carinhosamente, tocá-lo, senti-lo, vivenciá-lo, preservá-lo, ouvir o ronco do motor e extasiar-se com o “aroma de zero km”, humanizando-o e nutrindo ciúmes, tal como o existente pela mulher amada.

E, a propósito, como viver sozinho, sem a companhia do cônjuge? Talvez, seja menos difícil para os solteiros que ainda não conheceram a vida matrimonial.
E como trafegar pelas ruas sem a locomoção do carro próprio? Talvez, essa seja a única solução concebível apenas para os que ainda não o possuem e necessitam de ônibus.

Por uma causa nobre, entretanto, um dia no ano foi criado em 1998, como forma de reflexão, com o objetivo de deixar o seu amigo automotivo descansando na garagem. E ele merece, assim como o meio ambiente. E é contra os malefícios que o dióxido de carbono (CO2) traz para a camada de ozônio, como efeito estufa, poluição do ar e sonora, doenças respiratórias, além de stress, acidentes fatais, que essa data originada em 22 de setembro, na França, é conhecida como o dia mundial sem carro.

Seria uma tarefa fácil aderir à campanha? É difícil imaginar o mesmo homem, ‘cabra macho’, que não ousaria ir à beira da pia, mergulhar as mãos em água e detergente para lavar louças. Contudo, por outro lado, a cena de ele enfrentando sol a pino com jatos d’água a fim de tornar o inestimável veículo limpo, perfumado e reluzente, torna-se uma prática, relativamente, corriqueira.
Abrir mão do conforto e encarar uma jornada de trabalho, perpassando por trânsitos congestionados através de precários transportes coletivos, é uma missão árdua e indigesta. Mesmo assim, que a nossa consciência nos guie a 300 km por hora para as sábias escolhas e os melhores destinos. O planeta agradece.