sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

TERMINAIS DE INTEGRAÇÃO DE SÃO LUÍS E A DESORDEM DIÁRIA

Ao tentar embarcar nos ônibus, o dia a dia da população ludovicense é marcado por tumulto nas filas dos terminais.

POR FÁBIO ALLEX


“[...] Nessa selva, a gente se acostuma a muito pouco. A gente fica achando que é normal entrar na fila, comprar ingresso p’ra levar porrada [...]”. A canção ‘No Meio de Tudo, Você’, da engenharia hawaiana do gaúcho Humberto Gessinger, pode ser bem aplicada no cotidiano do povo sem carro próprio, da Ilha do Odor, aliás, do Amor. Mas devo lembrar também a obra ‘Cidade em Chamas’, do mesmo compositor: “[...] As chances estão contra nós, mas nós estamos por aí a fim de sobreviver. No meio da confusão, andando sem direção a fim de sobreviver [...]”.

Pois é, a arte imita a vida e vice-versa. E neste recorte da vida urbana, enveredamos por uma intensa e fatigante aventura. Quase um exercício de sobrevivência conduzido pela lei do mais forte. É assim, a rotina de quem depende dos ônibus lotados nos Terminais Integrados de São Luís, onde intensos transtornos e incômodos são os principais passageiros.

O descontentamento da população gira em torno do alvoroço desencadeado pela desorganização das filas e do atendimento lento, ineficaz ou submisso dos funcionários. O caos é gerado, sobretudo por que muitas pessoas não respeitam a vez de quem está na frente, e para poder adentrar o ônibus, "furam" fila, empurram. 

TÍPICO DE CARNAVAL
A cena remete ao Marafolia: multidão, pouco espaço; carnaval fora de época, porém sem diversão. É que passou a existir, inclusive, uma cultura, quase uma religião dotada de fanatismo, caracterizada por filas paralelas à fila formada entre os corrimãos fincados nas plataformas. No fim das contas, isso tudo vira um grande amontoado de gente.

Embarque no Terminal da Cohab

Mesmo em horários de fluxo menor, aqueles que pleiteiam um metro quadrado nos coletivos ou um assento, se a sorte estiver a favor, não sabem aguardar a vez. Eles querem ultrapassar quem está à frente a todo custo, doa a quem doer. E salve-se quem puder, pois ninguém será poupado. Sejam idosos, mulheres com criança de colo, gestantes, deficientes físicos.

Os passageiros que vão embarcar, sequer esperam descer quem está chegando de uma demorada e cansativa viagem. E os agentes de plataforma, o que fazem? Nada. Quiçá, queiram evitar a fadiga. Enquanto isso, na sala de justiça, a ordem sai pela culatra.

AGENTES DE PLATAFORMA

A comum falta de compromisso desses... Profissionais?, nos cinco Terminais (Praia Grande, Distrito Industrial, Cohab/Cohatrac, São Cristóvão e Cohama/Vinhais) é muito fácil de perceber. Além de serem poucos, eles ficam ao léu, absortos, distraídos, contemplando o além do infinito e evadem-se no meio dos incontáveis passageiros ou preenchem o tempo conversando entre si. Os agentes não interferem em quase nada, a não ser que tenham super poderes e fiquem invisíveis e, por isso, não sejam notados.

Quaisquer informações como itinerário e plataforma dos coletivos, na maioria das vezes se obtém por intermédio de um simples mortal, como algum usuário. “As pessoas não respeitam as filas, e sem os funcionários para organizar fica bem mais difícil. Antes era bom, mas parece que se acomodaram com a garantia do emprego. Além de não organizarem as filas, eles fornecem as informações de má vontade. O povo também é acomodado, pois não reivindica seus próprios direitos”, reclamou o universitário Geylson Fernandes, 22. “O [Terminal] da Cohama, apesar dos pesares, até que é bom. Têm outros em situações bem piores, declarou a cobradora Ana Patrícia, 31.
 
O ajudante de pedreiro, Francelmo Costa Veloso, 34, morador de Panaquatira, enumerou as principais dificuldades encontradas em sua rotina. “Lá, [em Panaquatira] só tem um ônibus que passa de duas em duas horas, então essa é a maior dificuldade. [Os agentes] são muito incompetentes, porque a todo o momento nós precisamos deles, mas fogem da prestação de serviço. Quando a gente quer informação, não tem ninguém pra orientar. Tem plataforma que é a mesma pra embarque e desembarque, então cria tumulto”, disse ele.

Terminal de Integração da Cohama

Terminal da Cohama

Vale destacar que nem tudo parece perdido, pois o Terminal da Cohama tem recebido visitas mais frequentes desses funcionários. Ultimamente, as plataformas vermelhinhas estão sendo habitadas pela rapaziada da prancheta, mesmo não sendo durante todo o expediente. De qualquer forma, já é um começo, né? De repente, eles se acostumam e a moda, por conseguinte, até seja seguida. Vale a torcida!

Segundo Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT), os cinco Terminais de Integração contam com cerca de 600 servidores, distribuídos em quatro turnos de revezamento. Cada turno trabalha com 30 funcionários que desempenham as funções de orientadores de plataforma, auxiliar de serviços gerais, coordenação e administração.

NERVOS À FLOR DA PELE
Quem já viu alguma confusão mais enérgica em algum dos Terminais, ou aos redores, como agressões físicas e até morte? Um dos casos foi o assassinato de Luís Carlos Ferreira, 28, na noite de 20 de setembro deste ano.

José Carlos Augusto Silva, ferido durante confusão no Terrminal Cohab

Na manhã do dia 3 de outubro, data que credenciou a continuidade de Roseana Sarney a frente do governo do Estado, o pedreiro José Carlos Augusto Silva, 34, após desentender-se com a esposa, recebeu intervenção de guardas municipais, os mesmos incumbidos de garantir a segurança do local, e um deles, o guarda Ubiratan, teria demonstrado despreparo para lidar com eventos como a do dia das Eleições. “O guarda se aproximou e perguntou o que tava acontecendo, e a minha mulher disse que queria ir pra casa. Ele só perguntou isso e veio em minha direção pra me bater, me agredindo com chute e batendo com a minha cabeça no ferro [do corrimão, onde as filas devem ser formadas]. Eu não tive nem reação”, contou.

Mulher de José Carlos abraça-o para protegê-lo de guardas

Guardas Magno e Ubiratan 

Para o delegado do Plantão do Cohatrac, Almir Macedo, que recebeu a vítima, testemunhas e o suposto agressor para registro de ocorrência, os guardas municipais, responsáveis por manterem a ordem nos Terminais Integrados, são despreparados para conduzir incidentes de rotina e não deveriam intervir em situações como desentendimento de casais, por exemplo. Para ele, a intervenção deve ser feita apenas quando apresentar gravidade. “Eles se colocam na condição de autoridades e adotam procedimentos inadequados para o cargo que ocupam. Eu já até falei com o secretário municipal de Segurança, Luiz Carlos [Magalhães], conversei com ele, sou amigo dele: rapaz, orienta o pessoal, que está tendo problema, de vez em quando, dessa natureza”, relatou parte da conversa com o secretário da Semusc.

O delegado ainda mencionou outro ato, em que ele considera um equívoco por parte da guarda municipal. “Outro dia teve um problema sério lá [no terminal Cohab/Cohatrac]. Um cara que tava com uma garrafa de bebida. Prenderam o cara, algemaram o cara, trouxeram pra cá [para a delegacia do Cohatrac]. Desnecessário! Basta pegar a garrafa dele, jogar no lixo”, explicou.

PENDURADOS NOS ÔNIBUS
Segue a odisseia. Outra rotina nos terminais é protagonizada por passageiros que se sujeitam a ir pendurados nas portas dos ônibus.
A pressa para poder cumprir horários leva-os ao desconforto e ao perigo. E esses percalços, certamente, não são resultados apenas da desorganização nas filas, mas também da quantidade de ônibus que não atende a demanda.

Embarque no Terminal da Praia Grande


Terminal do São Cristóvão
No entanto, a SMTT comunicou por e-mail que o transporte coletivo de São Luís teve aumento de 20% em 2009, correspondendo à colocação de aproximadamente 150 novos ônibus em circulação. Ainda de acordo com a Secretaria, estes veículos estão regularizados conforme as normas da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP), tendo 24% dos coletivos operantes adaptados para portadores de deficiência física - a Lei Municipal da Acessibilidade determina que sejam 15% -, isto é, com elevadores e espaço reservado para cadeirantes, carros mais longos com 16 metros de comprimento e três portas de 1,30.

A SMTT informou também que a capital maranhense disponibiliza uma frota de 1.011 ônibus para atender diariamente cerca de 550.000 usuários. Já o montante de carros é de 230.482 unidades. Nas contas do Órgão, 179 ônibus ainda vão ser inseridos no sistema até o fim deste ano.
Outro dado importante vem do Censo 2010 que divulgou precisamente, uma população de 1.011.943 em São Luís. Já pensou se ninguém tivesse carro próprio?

Espera de coletivo no Terminal do Distrito

Usuários aguardando ônibus no Terminal do Distrito

Terminal do Distrito Industrial: longa espera

INFRAESTRUTURA

A infraestrutura também é uma preocupação compartilhada. Os bebedouros, em estado crítico, envolvidos pela ferrugem, não recebem manutenção, e alguns mal funcionam. No Terminal da Cohab, já não existe mais. Existem telhados danificados; lixeiras quebradas; e o lixo, às vezes, espalhado.

Bebedouro do Terminal da Praia Grande

Além disso, a higiene no mangue, aliás, nos banheiros também não se salva, é desumana. As condições deploráveis apresentam ambientes imundos com odor insuportável, falta de água (e de torneira) e um chão que, vez ou outra, pode ser facilmente confundido com um lamaceiro.

Banheiro masculino do Terminal da Praia Grande

      Banheiro masculino provisório do Terminal da Praia Grande

Banheiro do Terminal da Praia Grande: sem água (e sem torneira)

Privada sem privacidade: Terminal da Praia Grande

Banheiro feminino do Terminal da Praia Grande

Banheiro do Terminal do Distrito

Banheiro para deficientes físicos do Terminal do Distrito

Banheiro masculino do Terminal do São Cristóvão

Banheiro masculino do Terminal do São Cristóvão

Banheiro provisório para homens no Terminal da Cohab

Banheiro do Terminal da Cohab

 Banheiro do Terminal da Cohama

Banheiro masculino (com portas nos lugares) do Terminal da Cohama

Torneiras (com água) e detergente: banheiro do Terminal da Cohama

Sem contar com os períodos de chuva que deixam uma parte considerável dos terminais, alagada. E como se já não bastasse toda aglomeração de usuários, as feiras, aliás, os Terminais são repletos de vendedores ambulantes que distribuem suas mercadorias pelo local, e dificultam a locomoção dos passageiros.

REFORMA DOS TERMINAIS

Em resposta, a SMTT diz que a equipe de gestão dos Terminais está desenvolvendo um programa de qualidade para melhorar o atendimento e o serviço de informação ao usuário. E com as reformas de todos os terminais, previstas para serem realizadas ainda em 2010, os passageiros deverão contar com ambientes mais confortáveis e seguros.

Quem, nem de longe, consegue perceber essa qualidade, que vai de mal a pior, é a população, sempre obrigada a enfrentar um aglomerado de pessoas para embarcar e desembarcar dos ônibus. Além disso, tem que pagar uma passagem cara para a realidade ludovicense. Enquanto isso, entre pisões e empurrões, a população sobrevive aguardando na fila ou fora dela.

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7 comentários:

  1. Anônimo1:03 AM

    Parabéns muito boa sua reportagem, continue assim e que você seja cada vez melhor portador da voz do povo!

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  2. Anônimo1:04 AM

    Parabéns muito boa sua reportagem, que você seja cada vez melhor portador da voz do povo!

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  3. Anônimo10:29 PM

    Gostei da reportagem, muito boa. Aliás você é um ótimo jornalista mas naõ perde a mania de querer mudar o mundo...

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  4. Anônimo2:22 PM

    parabêns pela sua reportagem

    é dificil encontrar um blog em são luis
    que fale da realidade dos terminais.

    os chefões da prefeitura não estão nen ai para nada em são luis.

    sobre a quantidade de funcionarios é uma mentira chamaram sim 600 novos servidores em 27 de agosto de 2007. Mas desde lah mais de 70% desses ja sairam.

    o terminal da cohama é sim o mais limpo, o de melhor atendimento. porque será?! seria por que a gestora geral dos terminais a senhora Beth esta lotada lah ou porque é o mais perto da smtt e a secretaria não quer sentir o fedor do terminal.

    muito obrigado pelo o espaço fica aqui a indignação de um ex-servidor dessa secretaria.

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  5. Parabéns por este serviço de civilidade e divulgação. Acabei extraindo algumas imagens e postei seu link numa comunidade do Orkut para divulgação.

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  6. Felipe, obrigado.
    Deixe o link do seu orkut.

    Grande Abraço!

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  7. A todos que comentarem, deixem alguma identificação para eu poder me dirigir pessoalmente.

    Abraço!

    JUNTOS, SOMOS MELHORES, pois ninguém é autossuficiente para ser feliz sozinho

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