sábado, 31 de março de 2007

PROCELA

(FÁBIO ALLEX)

 
Chove tão forte lá fora, e não posso sair. Talvez não molhasse em mim.
O frio é intenso. Aqui dentro traz falta de ar. É mesmo de arrepiar.
Vejo miragem em tudo, em todo lugar. No espelho, nimbos a me olhar.
Garoa surgindo é prelúdio de enxurrada. Preparo-me para o pé-d’água.
Estrela nenhuma no céu, relâmpagos brilham no ar. É perigo, de cego ficar.
Dilúvio que submergiu o referencial. Inundação torrencial.

Nuvem em cima de mim e abaixo do nível do mar.
Nuvem em cima de mim. Pluviosidade, que azar!

Chuva de granizo, isso que é temporal! No mar, açúcar em vez de sal.
Se chover canivete, talvez vá me molhar. Sem medo de me cortar.
Guarda-chuva e sombrinha p’ra proteger. O perigo está em viver.
Mas, o sol ainda espero que possa surgir. Espero paciente aqui.
Ao redor, tudo molhado e sinto-me sertão. Com frio no meu coração.
Estrondo, trovões e ventania a diluir. Mas é assim que consigo dormir.

Nuvem em cima de mim. Pluviosidade, que azar!
Nuvem em cima de mim. Ainda bem que eu sei nadar.

(20-01-1999)

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